terça-feira, abril 27

Uncovered


Where are all the horses
that can make a life sprout
and cease an emptiness to be?
For if when we forget the flesh
that pumps and turns in such a secret,
something I wish not to perceive
right in the corner of your eyes.
So far reality can be
when I get lost in your old fictions,
like once you told me in a dream
“I swear love is not ephemerous”
and a tear spinned down your face,
so I remained so uncomfortable
for the weight that you were carrying.
And your eyes, that strange harbors
attained to delve into my chest,
and I could only hold your hand
as if I’ve spent all of this life
waiting for that single moment.

segunda-feira, abril 19

Shadow


Há uma morte certa
repleta de insucesso
idêntica ao escoar das águas nas barragens.
Foi só mais uma noite escura
iluminada por um olhar,
e um sorriso capaz de saltar obstáculos
e vencer oceanos
revoltos pela ferocidade da lua.

Aqui,
onde nunca estás,
o sangue sopra nas feridas há muito cansadas
pelo deslumbramento,
e os teus passos geram uma exactidão atroz
na confusão das horas,
uma calma,
um silêncio que verte pelo peito,
que me come a boca,
os dentes,
e me faz esquecer a razão.

Em sombra.
Deixa-me viver em overdose
deixa-me observar-te enquanto dormes
esquecida no teu próprio sono.

quinta-feira, abril 15

Painted desert


No princípio da incerteza
o mundo começa a tombar,
e as árvores tremem de uma insensatez
idêntica ao quebrar do gelo
nas tuas mãos.

Foi só o tempo,
só o tempo que trouxe as lágrimas
e toda esta escuridão
que esconde o horizonte,
nada como
quando me davas o alento do teu corpo,
sempre o teu corpo de encontro ao meu,
como quando todas as estradas
pareciam verosímeis de percorrer,
como que compostas em pauta
pela embriaguez de uma qualquer música,
todas para o mesmo destino,
um destino colorido por um pincel
mergulhado em sonhos.

Lembras-te quando sonhávamos
e acordávamos felizes,
com a cor dos olhos?

Agora,
já só sei pintar o horizonte.

Sadism


I cannot find myself in this silence
or in the depth of your eyes,
nor in sleep,
where finally I am alone
imagining the wounds on your hands.

domingo, abril 4

Imagem


desculpa
o que te queria dizer talvez não fosse isto
a solidão turva-se-me de lágrimas
e nas pálpebras tremem visões do meu delírio
olho as fotografias de antigos desertos
corpos coerentes que fomos
bocas de papel amarelecido
onde a sede nunca encontrou a sua água
e às vezes ainda tenho sede de ti
mas na vertigem da viagem o coração galopa desordenadamente
no écran da memória acende-se a imagem da mulher que amei
quase nítida vejo-te sentada
à porta da rua bordando um pano de linho branco
só esta imagem transportarei comigo
embora nunca tenha conseguido saber o que bordavas
uma colcha? uma toalha? um sudário?
também nunca to perguntei
tinha tempo de sobra para o descobrir
vivíamos longe da cidade espreitavas a nesga de mar
como uma risca de azul cerúleo ao fim da rua


Al Berto