Absorção
"O meu olhar prende o presente
mas a minha alma absorve o futuro
não sei o que fiz ao passado
talvez o tenha enterrado
junto às tuas memórias
Perdido algures no tempo
retido numa praia qualquer
bem perto do mar."
Teresa
Clapham at night time, lights wash the pretzel store, and - we're still there, my love
terça-feira, setembro 30
segunda-feira, setembro 29
Por acaso
"fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer."
José Luís Peixoto - a criança em ruínas
"fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer."
José Luís Peixoto - a criança em ruínas
quinta-feira, setembro 25
Fade
"(...) Never fade from my mind. Shower me and give me life. Never fade from my mind. Always there when I close my eyes. Never fade from my mind. Shower me and give me life. Never fade from my mind. Always there when I close my eyes...
Hesitate. Pull me in.
Breath on breath. Skin on skin.
Lovin' deep. Fallin fast.
All right here. Let this last.(...)"
Solu Music feat. Kimblee - Fade
"(...) Never fade from my mind. Shower me and give me life. Never fade from my mind. Always there when I close my eyes. Never fade from my mind. Shower me and give me life. Never fade from my mind. Always there when I close my eyes...
Hesitate. Pull me in.
Breath on breath. Skin on skin.
Lovin' deep. Fallin fast.
All right here. Let this last.(...)"
Solu Music feat. Kimblee - Fade
quarta-feira, setembro 24
Take this life
Olhos. Mãos.
Quando te vi não sabia que eras tu.
Um dia pediste: abre os olhos - e eu mantive-os fechados, tão cerrados que não via nem um traço de luz.
Quando o sol nascia, não era nada comigo.
Acordava, bocejava, levava horas para me mexer.
Não te queria.
Não te via.
Não te tocava.
Solidão.
Desejo de solidão.
O tempo passava e parecia que a vida não existia, que estava apenas à espera de um motivo para morrer. E quando em segredo te olhava, tinha medo de viver.
Medo.
E no entanto procurava-te em cada recanto do dia.
Sonhava.
Imagináva-nos eternos, sem princípios nem leis, sem termos sequer nascido.
Almas.
Qualquer coisa que nunca tivesse fim.
Depois acordava e telefonava-te. Não apareças mais - pedia. E tu não aparecias.
Não entendias.
Iamos morrendo em cada dia e tu não entendias, não compreendias que não queria morrer contigo.
Ver-te crescer, envelhecer, morrer.
E perder-te.
E nunca te tive por medo de viver.
eu sei que já tinha colocado este post há uns meses atrás, mas hoje... tem uma razão de ser...
Olhos. Mãos.
Quando te vi não sabia que eras tu.
Um dia pediste: abre os olhos - e eu mantive-os fechados, tão cerrados que não via nem um traço de luz.
Quando o sol nascia, não era nada comigo.
Acordava, bocejava, levava horas para me mexer.
Não te queria.
Não te via.
Não te tocava.
Solidão.
Desejo de solidão.
O tempo passava e parecia que a vida não existia, que estava apenas à espera de um motivo para morrer. E quando em segredo te olhava, tinha medo de viver.
Medo.
E no entanto procurava-te em cada recanto do dia.
Sonhava.
Imagináva-nos eternos, sem princípios nem leis, sem termos sequer nascido.
Almas.
Qualquer coisa que nunca tivesse fim.
Depois acordava e telefonava-te. Não apareças mais - pedia. E tu não aparecias.
Não entendias.
Iamos morrendo em cada dia e tu não entendias, não compreendias que não queria morrer contigo.
Ver-te crescer, envelhecer, morrer.
E perder-te.
E nunca te tive por medo de viver.
eu sei que já tinha colocado este post há uns meses atrás, mas hoje... tem uma razão de ser...
segunda-feira, setembro 22
sexta-feira, setembro 19
Não vou por aí
"Vem por aqui --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí."
José Régio - Cântico Negro
"Vem por aqui --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí."
José Régio - Cântico Negro
quarta-feira, setembro 17
Mercredi, chá e scones
- Apetecia-me cavar um buraco no teu quintal, esgravatar a terra e meter-me lá dentro. Depois cobrir-me até ficar só com os olhos de fora, a boca e o nariz para respirar.
- Apetecia-me recuperar a tua rebeldia, chorar a tua dor, acalmar a tua revolta. Oferecer-te os teus abraços, tocar-te nos cabelos... e todos os dias quando os primeiros raios de sol aparecessem ir ter contigo, suavemente abrir-te os olhos, e perdermo-nos no silêncio do tempo a passar. E quando a lua aparecesse, devolvia-te à tua dor e contar-te-ia uma história cheia de cores.
- E as cores devolver-me-iam a paz? O calor da terra criaria a ilusão dos abraços?
Sabes... já o fiz. Já o fiz na areia escorregadia das praias, no linho dos meus lençóis, na opacidade dos meus cortinados. Mas o casulo desfez-se sempre e, em todas essas vezes, tive que voltar a nascer. E em todas essas vezes cresceram-me asas com todas as cores.
É isso, e isso sou eu.
- O casulo desfaz-se sempre e não nos deixa o eu anterior. E a terra, nos seus fortes abraços, vai-nos sempre retirando um pouco da nossa pureza, da inocência que faz os nossos olhos brilharem.
Isso somos nós – o mundo – e aquilo que um dia fomos... As nossas asas, preenchidas de cores, libertam-nos, fazem-nos voar uma nova vida. E o ciclo termina, fechamos mais uma caixinha de sonhos.
Quando voltaremos a abrir a próxima? E depois, o que acontece?
- Depois, a confusão dos dias devolve-nos os sonhos. Depois, caem-nos as asas e sentimos as artérias a explodirem-nos no corpo, o sangue a correr pelos dedos. Depois, voltamos aos livros e às aguarelas, aos cigarros. Depois, enfeitiçamo-nos por olhares, por sorrisos, quando tudo o que nos faz falta é paz. Depois, voltas tu, abres-me suave e novamente os olhos, e perdemo-nos novamente no silêncio.
Ainda há sonhos, ou o sonho acabou?
- O sonho acabou, mas ainda há sonhos. Ainda existem uma série de caixinhas vazias que esperam ansiosas por todos os sonhos que irás ter.
Queria poder dizer-te que os sonhos tornarão e serão bons, que poderás andar com eles a correr o mundo, porque esses serão luminosos, porque esses serão belos.
Gostava de ser médica de sonhos e de poder curar os intermináveis sonhos tristes...
- Gostava de contornar todas as curvas deste abismo, de saltar as pedras do teu quintal. Gostava de deixar o sangue subir-me à garganta e gritar para fora toda a confusão.
Às vezes falha-me a força para devolver o brilho aos meus olhos, e então entrego-me aos teus, aos de todos que amo, para conseguir sorrir.
- Agora voltamos a tocar o chão que espera por nós. Voltamos a procurar o brilho nos olhos de alguém. Voltamos de seguida a querer voar, a abraçar com toda a nossa força o próximo sonho.
Porque vamos fazê-lo..!
Tânia, Teresa, e um reflexo no bule.
- Apetecia-me cavar um buraco no teu quintal, esgravatar a terra e meter-me lá dentro. Depois cobrir-me até ficar só com os olhos de fora, a boca e o nariz para respirar.
- Apetecia-me recuperar a tua rebeldia, chorar a tua dor, acalmar a tua revolta. Oferecer-te os teus abraços, tocar-te nos cabelos... e todos os dias quando os primeiros raios de sol aparecessem ir ter contigo, suavemente abrir-te os olhos, e perdermo-nos no silêncio do tempo a passar. E quando a lua aparecesse, devolvia-te à tua dor e contar-te-ia uma história cheia de cores.
- E as cores devolver-me-iam a paz? O calor da terra criaria a ilusão dos abraços?
Sabes... já o fiz. Já o fiz na areia escorregadia das praias, no linho dos meus lençóis, na opacidade dos meus cortinados. Mas o casulo desfez-se sempre e, em todas essas vezes, tive que voltar a nascer. E em todas essas vezes cresceram-me asas com todas as cores.
É isso, e isso sou eu.
- O casulo desfaz-se sempre e não nos deixa o eu anterior. E a terra, nos seus fortes abraços, vai-nos sempre retirando um pouco da nossa pureza, da inocência que faz os nossos olhos brilharem.
Isso somos nós – o mundo – e aquilo que um dia fomos... As nossas asas, preenchidas de cores, libertam-nos, fazem-nos voar uma nova vida. E o ciclo termina, fechamos mais uma caixinha de sonhos.
Quando voltaremos a abrir a próxima? E depois, o que acontece?
- Depois, a confusão dos dias devolve-nos os sonhos. Depois, caem-nos as asas e sentimos as artérias a explodirem-nos no corpo, o sangue a correr pelos dedos. Depois, voltamos aos livros e às aguarelas, aos cigarros. Depois, enfeitiçamo-nos por olhares, por sorrisos, quando tudo o que nos faz falta é paz. Depois, voltas tu, abres-me suave e novamente os olhos, e perdemo-nos novamente no silêncio.
Ainda há sonhos, ou o sonho acabou?
- O sonho acabou, mas ainda há sonhos. Ainda existem uma série de caixinhas vazias que esperam ansiosas por todos os sonhos que irás ter.
Queria poder dizer-te que os sonhos tornarão e serão bons, que poderás andar com eles a correr o mundo, porque esses serão luminosos, porque esses serão belos.
Gostava de ser médica de sonhos e de poder curar os intermináveis sonhos tristes...
- Gostava de contornar todas as curvas deste abismo, de saltar as pedras do teu quintal. Gostava de deixar o sangue subir-me à garganta e gritar para fora toda a confusão.
Às vezes falha-me a força para devolver o brilho aos meus olhos, e então entrego-me aos teus, aos de todos que amo, para conseguir sorrir.
- Agora voltamos a tocar o chão que espera por nós. Voltamos a procurar o brilho nos olhos de alguém. Voltamos de seguida a querer voar, a abraçar com toda a nossa força o próximo sonho.
Porque vamos fazê-lo..!
Tânia, Teresa, e um reflexo no bule.
segunda-feira, setembro 15
Unravel
"While you are away
My heart comes undone
Slowly unravels
In a ball of yarn
The devil collects it
With a grin
Our love
In a ball of yarn
He'll never return it
So when you come back
We'll have to make new love"
Björk - Unravel
"Quando a distância separa os amigos uns dos outros, a música pode voltar a uni-los. Escuta uma canção e pensa nos bons velhos tempos passados com amigos com quem costumavas ouvir música. Poderás chegar à conclusão que eles parecem tão próximos como o compasso seguinte." - Alaric Lewis, O.S.B.
"While you are away
My heart comes undone
Slowly unravels
In a ball of yarn
The devil collects it
With a grin
Our love
In a ball of yarn
He'll never return it
So when you come back
We'll have to make new love"
Björk - Unravel
"Quando a distância separa os amigos uns dos outros, a música pode voltar a uni-los. Escuta uma canção e pensa nos bons velhos tempos passados com amigos com quem costumavas ouvir música. Poderás chegar à conclusão que eles parecem tão próximos como o compasso seguinte." - Alaric Lewis, O.S.B.
sexta-feira, setembro 12
Traços sonhados
No canto da cama, no resto dos lençóis, prendo à janela uma folha branca e espero pelo sol. Fecho os olhos e traço linhas que se perdem nos rasgos dos teus olhos.
O amanhecer é tardio e a espera consome-me demasiado. Imagino as tuas mãos, alienadas, tentando rasgar a folha do outro lado do vidro, e tudo é excessivo.
Ainda me lembro de quem eras quando me ofereceste de ti, ainda me lembro que os traços que te contornavam não precisavam de ser desenhados. Em cada esquina do teu corpo havia cores diferentes que esperavam por ser esbatidas e eu, inexperiente, não lhes ousava tocar. E lembro-me de como todos os tons se compunham e te compunham numa qualquer obra de Arte.
Agora tu não estás e eu não tenho tintas para te pintar. Agora tu não estás e de nada me servem os pincéis, de nada me serve esta destreza em sonhar-te, pois se não há cores, se só há vida nas minhas mãos e não tenho onde as calar. E a folha, a folha que espera pela luz amarelece, pois as minhas mãos não param cheias de vida, de sonhos, pois ainda te sonho em qualquer tela acabada. Por isso rasgo a folha de um só golpe, rasgo a folha e devolvo-me à almofada, perco-me nos lençóis e espero que o sono me leve até um qualquer museu onde possa encontrar-te.
No canto da cama, no resto dos lençóis, prendo à janela uma folha branca e espero pelo sol. Fecho os olhos e traço linhas que se perdem nos rasgos dos teus olhos.
O amanhecer é tardio e a espera consome-me demasiado. Imagino as tuas mãos, alienadas, tentando rasgar a folha do outro lado do vidro, e tudo é excessivo.
Ainda me lembro de quem eras quando me ofereceste de ti, ainda me lembro que os traços que te contornavam não precisavam de ser desenhados. Em cada esquina do teu corpo havia cores diferentes que esperavam por ser esbatidas e eu, inexperiente, não lhes ousava tocar. E lembro-me de como todos os tons se compunham e te compunham numa qualquer obra de Arte.
Agora tu não estás e eu não tenho tintas para te pintar. Agora tu não estás e de nada me servem os pincéis, de nada me serve esta destreza em sonhar-te, pois se não há cores, se só há vida nas minhas mãos e não tenho onde as calar. E a folha, a folha que espera pela luz amarelece, pois as minhas mãos não param cheias de vida, de sonhos, pois ainda te sonho em qualquer tela acabada. Por isso rasgo a folha de um só golpe, rasgo a folha e devolvo-me à almofada, perco-me nos lençóis e espero que o sono me leve até um qualquer museu onde possa encontrar-te.
quinta-feira, setembro 11
Imagem
"Eu não durmo, respiro apenas como a raiz sombria
dos astros: raia a laceração sangrenta,
estancada entre o sexo
e a garganta. Eu nunca
durmo,
com a ferida do meu próprio sono.
Às vezes movo as mãos para suster a luz que salta
da boca. Ou a veia negra que irrompe dessa estrela
selvagem implantada
no meio da carne, como no fundo da noite
o buraco forte
do sangue. A veia que me corta de ponta a ponta,
que arrasta todo o escuro do mundo
para a cabeça. Às vezes mexo os dedos como se as unhas
se alumiassem.
Mas nunca durmo entre os meus braços
pulsando
como grandes carótidas
que alimentem a beleza e rapidez do rosto sobre
músculos fechados.
Enquanto o sol rompe as membranas
dos espelhos: não danço, não
durmo, não respiro mais que a terra esquartejada pelas chamas
lunares.
(...)"
Herberto Helder - (walpurgisnacht)
"Eu não durmo, respiro apenas como a raiz sombria
dos astros: raia a laceração sangrenta,
estancada entre o sexo
e a garganta. Eu nunca
durmo,
com a ferida do meu próprio sono.
Às vezes movo as mãos para suster a luz que salta
da boca. Ou a veia negra que irrompe dessa estrela
selvagem implantada
no meio da carne, como no fundo da noite
o buraco forte
do sangue. A veia que me corta de ponta a ponta,
que arrasta todo o escuro do mundo
para a cabeça. Às vezes mexo os dedos como se as unhas
se alumiassem.
Mas nunca durmo entre os meus braços
pulsando
como grandes carótidas
que alimentem a beleza e rapidez do rosto sobre
músculos fechados.
Enquanto o sol rompe as membranas
dos espelhos: não danço, não
durmo, não respiro mais que a terra esquartejada pelas chamas
lunares.
(...)"
Herberto Helder - (walpurgisnacht)
terça-feira, setembro 9
Sonhos
"queria guardar os meus sonhos numa caixinha para poder usá-los quando estivesse mais triste" - Lucy
Há sonhos que nos rasgam a pele, nos consomem, nos fazem acordar a meio da noite e desejar alcançá-los mesmo antes de voltar a adormecer. Há sonhos que nos desenham sorrisos quando nos tentam demover do que para nós é certo. Que nos movem as pernas, os braços, e nos fazem seguir em frente. Há sonhos.
E é assim - é assim desde sempre - é assim que sem perceber os guardamos todos em 3 caixas distintas: uns ficam perdidos na memória, uns agarrados à esperança, e outros a saltar no coração. Por isso é que, como costumam dizer, não há mal que sempre dure. Por isso é que depois de um dia triste vem um sonho e nos desenha um sorriso na cara. Por isso é que nunca devemos desistir deles, e sim guardá-los cuidadosamente, um a um, todos dentro de nós.
E guardá-los numa caixinha, como deseja a Lucy, era bem mais simples e bonito. Andar com ela no bolso, ver um amigo triste e ter a oportunidade de dizer: espera, tenho aqui um sonho que te vai fazer feliz!
Sonhar é pintar a vida com um sorriso.
"queria guardar os meus sonhos numa caixinha para poder usá-los quando estivesse mais triste" - Lucy
Há sonhos que nos rasgam a pele, nos consomem, nos fazem acordar a meio da noite e desejar alcançá-los mesmo antes de voltar a adormecer. Há sonhos que nos desenham sorrisos quando nos tentam demover do que para nós é certo. Que nos movem as pernas, os braços, e nos fazem seguir em frente. Há sonhos.
E é assim - é assim desde sempre - é assim que sem perceber os guardamos todos em 3 caixas distintas: uns ficam perdidos na memória, uns agarrados à esperança, e outros a saltar no coração. Por isso é que, como costumam dizer, não há mal que sempre dure. Por isso é que depois de um dia triste vem um sonho e nos desenha um sorriso na cara. Por isso é que nunca devemos desistir deles, e sim guardá-los cuidadosamente, um a um, todos dentro de nós.
E guardá-los numa caixinha, como deseja a Lucy, era bem mais simples e bonito. Andar com ela no bolso, ver um amigo triste e ter a oportunidade de dizer: espera, tenho aqui um sonho que te vai fazer feliz!
Sonhar é pintar a vida com um sorriso.
segunda-feira, setembro 8
House in the clouds
"I left my house in the clouds
I walked into someone's afterlife
She kept a pill in her hand
To take when we were about to land
Did you try
To let it go on by?
Did you try?
The Needles and the Uniforms
A schoolgirl and a unicorn
Eclipse a love with a loss
I sought comfort in her underwear
I shaved my face twice a day
Those crazy lambs
They will suffocate
Did you cry
Or let it go on by?
Did you cry?
The aftertaste of something warmer
Of schoolgirls and of unicorns.
Did you try to let it go on by?
Did you try?
The schoolgirl and the unicorn
The Needles and the Uniforms;
I washed her face in the rain
I will return to that place again
Back to my house in the clouds
Back to my house in the clouds"
Perry Blake
"I left my house in the clouds
I walked into someone's afterlife
She kept a pill in her hand
To take when we were about to land
Did you try
To let it go on by?
Did you try?
The Needles and the Uniforms
A schoolgirl and a unicorn
Eclipse a love with a loss
I sought comfort in her underwear
I shaved my face twice a day
Those crazy lambs
They will suffocate
Did you cry
Or let it go on by?
Did you cry?
The aftertaste of something warmer
Of schoolgirls and of unicorns.
Did you try to let it go on by?
Did you try?
The schoolgirl and the unicorn
The Needles and the Uniforms;
I washed her face in the rain
I will return to that place again
Back to my house in the clouds
Back to my house in the clouds"
Perry Blake
quarta-feira, setembro 3
O teu rosto
Não sei como te dizer isto, mas o tempo tem esmorecido no teu rosto. Tenho a certeza que é passageiro, que cedo largarás o chão e o silêncio - o medo que vive na tua garrafa da razão. Agora não, agora ainda trazes vestido o azul da tristeza, e caem-te pelo ombro as ondas de um qualquer mar salgado. Olha: os dias fogem-te, devagar. Devagar o teu tecto fica mais baixo, e o teu canto cada vez mais se parece com uma alcofa.
Não sei como te dizer isto, mas os pássaros voam todos por baterem as asas, e não por saber voar, como os amantes que se rendem aos lábios que nunca puderam beijar. E nunca, nunca ninguém os ensinou a fazê-lo.
Porque o dia nasce quando o sol brilha nos teus cabelos, e a noite são os teus olhos quando fecho os meus.
Não sei como te dizer isto, mas o tempo tem esmorecido no teu rosto. Tenho a certeza que é passageiro, que cedo largarás o chão e o silêncio - o medo que vive na tua garrafa da razão. Agora não, agora ainda trazes vestido o azul da tristeza, e caem-te pelo ombro as ondas de um qualquer mar salgado. Olha: os dias fogem-te, devagar. Devagar o teu tecto fica mais baixo, e o teu canto cada vez mais se parece com uma alcofa.
Não sei como te dizer isto, mas os pássaros voam todos por baterem as asas, e não por saber voar, como os amantes que se rendem aos lábios que nunca puderam beijar. E nunca, nunca ninguém os ensinou a fazê-lo.
Porque o dia nasce quando o sol brilha nos teus cabelos, e a noite são os teus olhos quando fecho os meus.
terça-feira, setembro 2
A tua mão na minha
Sabes,
há flores que nascem fora da primavera e amores que não nascem no verão. Como se tudo o que é dito fosse certo, como se terra não rodasse debaixo dos pés, levitasse.
Olhamos para trás.
Não sei porque me escondi dos teus olhos, ou ainda das tuas mãos. Não sei porque fugi pelo tempo, entregue ao inexorável, ao inevitável, a mim.
Houve dias em que choveu lá fora, tanto como dentro do meu quarto, ou como dentro dos meus olhos... mas o meu sorriso foi maior.
Um dia houve primavera, e logo a seguir o verão. No meio dos dedos nasceram-me flores, embriagadas pela luz dos teus olhos, loucas com o teu sorriso, com a tua voz.
E como cúmplices de um mesmo passado, demos as mãos e vimos passar de barco a alegria do indecifrável.
Sabes,
agora olho para as minhas mãos e sinto nelas a falta das tuas.
Sabes,
há flores que nascem fora da primavera e amores que não nascem no verão. Como se tudo o que é dito fosse certo, como se terra não rodasse debaixo dos pés, levitasse.
Olhamos para trás.
Não sei porque me escondi dos teus olhos, ou ainda das tuas mãos. Não sei porque fugi pelo tempo, entregue ao inexorável, ao inevitável, a mim.
Houve dias em que choveu lá fora, tanto como dentro do meu quarto, ou como dentro dos meus olhos... mas o meu sorriso foi maior.
Um dia houve primavera, e logo a seguir o verão. No meio dos dedos nasceram-me flores, embriagadas pela luz dos teus olhos, loucas com o teu sorriso, com a tua voz.
E como cúmplices de um mesmo passado, demos as mãos e vimos passar de barco a alegria do indecifrável.
Sabes,
agora olho para as minhas mãos e sinto nelas a falta das tuas.
segunda-feira, setembro 1
Tempo
"devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgávamos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim."
Explicação da Eternidade - José Luís Peixoto
"devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgávamos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim."
Explicação da Eternidade - José Luís Peixoto