segunda-feira, março 8

O sonho, as tuas mãos


Às vezes penso nos quadros do Philip Guston
e dou por mim num mundo ermo,
cheio de uma insatisfação doentia
e vergonha
que leva a cobrir a face,
como quando olho para os teus olhos
e me desconheço por completo.
Às vezes pergunto-me onde estavas
quando ainda desconhecia a metafísica,
e qualquer substância além do óbvio
era passível de uma surpresa absoluta,
onde tudo o que era vago
voava com as manhãs.
Vê como as minhas mãos tremem agora
numa oscilação forçada
pela vontade de refrear,
escuta o catapultar da minha respiração
no meio dos teus cabelos.
Não consigo fechar mais os olhos
ou ainda chamar o sono,
pois sempre que vem a noite
pergunto-me num só desejo,
se poderás juntar as tuas mãos
e me deixar morar nelas.