Sono
"Eu não durmo, respiro apenas como a raiz sombria dos astros: raia a laceração sangrenta, estancada entre o sexo e a garganta. Eu nunca durmo, com a ferida do meu próprio sono. (...) Nunca sei onde é a noite: uma sala como uma pálpebra negra separa a barragem da luz que suporta a terra. (...)"
Herberto Helder - (walpurgisnacht)
Clapham at night time, lights wash the pretzel store, and - we're still there, my love
sexta-feira, outubro 31
terça-feira, outubro 28
Delírio
Hoje sou o silêncio. Sem vento, sem os teus passos a acompanharem-me. Sem o meu nome nos teus lábios, como música. Hoje sou só o silêncio, como se me tivesse perdido do mundo no mundo. Como se tivesse calado a minha sede em encontrar-te, lacrando os meus olhos.
O que é o eterno, o que é a perfeição? O que é o sonho, o imaginário? E porque imaginas tu uma felicidade eterna, digna da perfeição, onde todos os sonhos são possíveis? Sei que nunca te julguei perfeito ou ainda eterno, e por isso roubei tantas vezes, de tantos homens e mulheres onde imaginava pedaços de ti, pedaços de sonho, pedaços de mim.
E agora este silêncio. Não existe mar, nem ondas nas rochas, ou grãos de areia entre os meus dedos.
Não há sal na minha carne.
Aqui, onde me perdi, não há nada - e bem posso fechar os olhos que não corro o risco de sonhar-te - só este delírio, só esta certeza de que hoje apenas o silêncio pode existir em mim.
Hoje sou o silêncio. Sem vento, sem os teus passos a acompanharem-me. Sem o meu nome nos teus lábios, como música. Hoje sou só o silêncio, como se me tivesse perdido do mundo no mundo. Como se tivesse calado a minha sede em encontrar-te, lacrando os meus olhos.
O que é o eterno, o que é a perfeição? O que é o sonho, o imaginário? E porque imaginas tu uma felicidade eterna, digna da perfeição, onde todos os sonhos são possíveis? Sei que nunca te julguei perfeito ou ainda eterno, e por isso roubei tantas vezes, de tantos homens e mulheres onde imaginava pedaços de ti, pedaços de sonho, pedaços de mim.
E agora este silêncio. Não existe mar, nem ondas nas rochas, ou grãos de areia entre os meus dedos.
Não há sal na minha carne.
Aqui, onde me perdi, não há nada - e bem posso fechar os olhos que não corro o risco de sonhar-te - só este delírio, só esta certeza de que hoje apenas o silêncio pode existir em mim.
domingo, outubro 26
Só a saudade nestas mãos de menina
Talvez seja o inverno, não sei bem. Quando o frio aperta lembro-me sempre dos meus longos cabelos e das minhas mãos de menina fora dos cobertores - da minha posição retorcida, quase fetal, dentro de um qualquer pijama – e lembro-me também da chuva, na minha janela, a bater nos estores. Era música, não sei, era tal como hoje. Como os passos da minha mãe, as mãos da minha mãe a estenderem o roupão por cima de mim, e eu sempre de olhos fechados, sempre a disfarçar o sono para não perder aquele carinho.
Este género de saudosismo amplia-se, e eu não percebo porquê. A minha mãe a aquecer-me os collants no calorífero e a ajudar-me a vesti-los, suspendendo-me no ar. Os braços seguros do meu pai, ele a levar-me uma caneca de leite quente à cama quando a tosse me roubava o ar. Os passeios, a chuva fora do carro. Os cobertores, o frio, o conforto.
Talvez seja este frio que, agora, me facilite estas memórias. É que agora tenho os cabelos curtos e não há mais roupões a meio da noite, nem collants a aquecer no calorífero. Há mais coisas, eu sei, mas talvez seja o inverno. Talvez seja esta trovoada a estrondear nos meus ouvidos e esta falta de coragem de correr para o colo de alguém. Porque eu sou hoje o que sempre fui, além do novo que ganhei em mim, e apesar de maiores estas mãos continuam as mesmas mãos de menina, sempre as mesmas mãos de menina a espreitar por fora dos cobertores.
Talvez seja o inverno, não sei bem. Quando o frio aperta lembro-me sempre dos meus longos cabelos e das minhas mãos de menina fora dos cobertores - da minha posição retorcida, quase fetal, dentro de um qualquer pijama – e lembro-me também da chuva, na minha janela, a bater nos estores. Era música, não sei, era tal como hoje. Como os passos da minha mãe, as mãos da minha mãe a estenderem o roupão por cima de mim, e eu sempre de olhos fechados, sempre a disfarçar o sono para não perder aquele carinho.
Este género de saudosismo amplia-se, e eu não percebo porquê. A minha mãe a aquecer-me os collants no calorífero e a ajudar-me a vesti-los, suspendendo-me no ar. Os braços seguros do meu pai, ele a levar-me uma caneca de leite quente à cama quando a tosse me roubava o ar. Os passeios, a chuva fora do carro. Os cobertores, o frio, o conforto.
Talvez seja este frio que, agora, me facilite estas memórias. É que agora tenho os cabelos curtos e não há mais roupões a meio da noite, nem collants a aquecer no calorífero. Há mais coisas, eu sei, mas talvez seja o inverno. Talvez seja esta trovoada a estrondear nos meus ouvidos e esta falta de coragem de correr para o colo de alguém. Porque eu sou hoje o que sempre fui, além do novo que ganhei em mim, e apesar de maiores estas mãos continuam as mesmas mãos de menina, sempre as mesmas mãos de menina a espreitar por fora dos cobertores.
quinta-feira, outubro 23
Memória
É possível criar tons de azul para os teus olhos, imaginar-te sem pressas como quem espera pelo entardecer. Riscar o teu rosto na parede esbatendo os contornos, esculpindo arestas, embaciando-te os lábios.
É possível amar-te, assim, sem o perigo da eternidade. Esconder o medo nos bolsos e a vergonha de nunca ter o ter vencido. E a memória é só isto, é só isto, é esta faca que me atravessa o peito e me impede de parar. Não são as imagens, ou as fotos, as lembranças do luar. Não são as crianças que corriam na rua, ou a chuva que caía da última vez que te vi. A memória é só isto, ou o deslumbramento do álcool no meu sangue, vítima da vontade de deslembrar. Esta rua, este asfalto, estas luzes que me seguem a sombra, este cheiro, os teus olhos, as tuas mãos pelo ar.
Não é o passado, ou ainda o presente. Ou o único segundo de fuga que tenho ao acordar. Os meus pés na areia, as estrelas a caírem, a tua voz a chamar. A memória não és tu, e é tão somente isto: a vontade de não sonhar.
É possível criar tons de azul para os teus olhos, imaginar-te sem pressas como quem espera pelo entardecer. Riscar o teu rosto na parede esbatendo os contornos, esculpindo arestas, embaciando-te os lábios.
É possível amar-te, assim, sem o perigo da eternidade. Esconder o medo nos bolsos e a vergonha de nunca ter o ter vencido. E a memória é só isto, é só isto, é esta faca que me atravessa o peito e me impede de parar. Não são as imagens, ou as fotos, as lembranças do luar. Não são as crianças que corriam na rua, ou a chuva que caía da última vez que te vi. A memória é só isto, ou o deslumbramento do álcool no meu sangue, vítima da vontade de deslembrar. Esta rua, este asfalto, estas luzes que me seguem a sombra, este cheiro, os teus olhos, as tuas mãos pelo ar.
Não é o passado, ou ainda o presente. Ou o único segundo de fuga que tenho ao acordar. Os meus pés na areia, as estrelas a caírem, a tua voz a chamar. A memória não és tu, e é tão somente isto: a vontade de não sonhar.
sexta-feira, outubro 17
Estátua
Quando o tempo reabre feridas perdidas na memória a espera torna-se insuportável, e a esperança tem um travo amargo, como se fosse o único mal que restou na caixa de Pandora.
Às vezes tenho vontade de dobrar os dedos para dentro do peito, de apertar o coração e calcar as feridas da ilusão, de o atar todo em ligaduras de iodo e esperar que o tempo o seque.
Tenho guardados em mim os teus olhos, uns olhos que nunca existiram, uns olhos que turvaram os meus dias e me devolveram a solidão.
Afinal eu não me conhecia, e esta ironia de ser e não ser, a teimosia que temos em nos conhecer, resulta apenas na ingratidão da oferta do pouco que somos ao que julgamos ser tudo.
Neste momento não sei mais como saltar por cima do tempo, da carne. Não sei mais como sair do sono profundo da anestesia.
“Quero que te olhes ao espelho e te encontres no teu reflexo” – mas isto são tudo palavras (e eu sei que sentidas) vindas de um amor profundo que sempre foi a amizade. Sossega. Agora quando me olho ao espelho não vejo mais veias saltarem-me da pele, nem corro mais as mãos para acalmar os soluços dos olhos. Agora vejo-me só a mim, sem qualquer significado, estátua colorida pelos dias. De onde em onde, noto vazios, pedaços que caíram com o tempo. E não voltam, e não voltam. Conseguem somente ver as suas arestas afagadas pela força que vive nos contornos que ficaram.
E o que me custa mais é pesar quem me ama com os meus delírios, arrancando-lhes também, involuntariamente, pedaços coloridos.
Se eu pudesse, desaparecia.
Quando o tempo reabre feridas perdidas na memória a espera torna-se insuportável, e a esperança tem um travo amargo, como se fosse o único mal que restou na caixa de Pandora.
Às vezes tenho vontade de dobrar os dedos para dentro do peito, de apertar o coração e calcar as feridas da ilusão, de o atar todo em ligaduras de iodo e esperar que o tempo o seque.
Tenho guardados em mim os teus olhos, uns olhos que nunca existiram, uns olhos que turvaram os meus dias e me devolveram a solidão.
Afinal eu não me conhecia, e esta ironia de ser e não ser, a teimosia que temos em nos conhecer, resulta apenas na ingratidão da oferta do pouco que somos ao que julgamos ser tudo.
Neste momento não sei mais como saltar por cima do tempo, da carne. Não sei mais como sair do sono profundo da anestesia.
“Quero que te olhes ao espelho e te encontres no teu reflexo” – mas isto são tudo palavras (e eu sei que sentidas) vindas de um amor profundo que sempre foi a amizade. Sossega. Agora quando me olho ao espelho não vejo mais veias saltarem-me da pele, nem corro mais as mãos para acalmar os soluços dos olhos. Agora vejo-me só a mim, sem qualquer significado, estátua colorida pelos dias. De onde em onde, noto vazios, pedaços que caíram com o tempo. E não voltam, e não voltam. Conseguem somente ver as suas arestas afagadas pela força que vive nos contornos que ficaram.
E o que me custa mais é pesar quem me ama com os meus delírios, arrancando-lhes também, involuntariamente, pedaços coloridos.
Se eu pudesse, desaparecia.
sábado, outubro 11
Rainfall
"I’d like to know what’s going on this world we’re living on,
There’s so much poverty all around me this insanity that surrounds me.
Distant worlds seem so far away people’s lives changing every day.
Oh no I can hear the rain fall, I can hear the rain, I can hear the rain fall, I can hear the rain
I’d like to know when you and I
Will stop walking and passing by
So much ignorance that my eyes see.
My experience cannot blind me
Distant worlds seem so far from here seasons change and the rain is near
Oh no I can hear the rain fall I can hear the rain, can you?
‘cos I can hear the rain fall, can you? I can hear the rain fall
I’d like to find a new reality something more than this fantasy
No more false dreams, no more mind games,
I can’t even see through this dark rain.
Distant worlds seem so far away people’s lives changing every day oh I can hear the rain fall."
Nitin Sawhney - rainfall
"I’d like to know what’s going on this world we’re living on,
There’s so much poverty all around me this insanity that surrounds me.
Distant worlds seem so far away people’s lives changing every day.
Oh no I can hear the rain fall, I can hear the rain, I can hear the rain fall, I can hear the rain
I’d like to know when you and I
Will stop walking and passing by
So much ignorance that my eyes see.
My experience cannot blind me
Distant worlds seem so far from here seasons change and the rain is near
Oh no I can hear the rain fall I can hear the rain, can you?
‘cos I can hear the rain fall, can you? I can hear the rain fall
I’d like to find a new reality something more than this fantasy
No more false dreams, no more mind games,
I can’t even see through this dark rain.
Distant worlds seem so far away people’s lives changing every day oh I can hear the rain fall."
Nitin Sawhney - rainfall
quinta-feira, outubro 2
Song For Catherine
"In your dreams, in your bed
in everyone and in your head
on the wall, it ain't white
in every letter that you write
In the way people talk
in the shape of stones and rocks
he's your hero, he's your God
he listens to this song and nods.... and nods
In a voice, in a sound
when you're happy when you're down
it will pass, things will change
but you don't want to hear that
In the scent of the air
on the clothes that people wear
you feel love, so does he
and he's telling you, "I'm here".... "I'm here"
he's here.... he's here"
K's Choice
"In your dreams, in your bed
in everyone and in your head
on the wall, it ain't white
in every letter that you write
In the way people talk
in the shape of stones and rocks
he's your hero, he's your God
he listens to this song and nods.... and nods
In a voice, in a sound
when you're happy when you're down
it will pass, things will change
but you don't want to hear that
In the scent of the air
on the clothes that people wear
you feel love, so does he
and he's telling you, "I'm here".... "I'm here"
he's here.... he's here"
K's Choice