sexta-feira, dezembro 5

Welcome to DreamBuster


Pensou hoje não quero nem a minha casa nem o meu quarto, nem as pessoas à minha espera. Pensou se tudo farta vou entrar no sonho, vou até à DreamBuster alugar outro espaço. E percorreu as prateleiras do clube de sonhos até encontrar um que o preenchesse. Levou-o para casa, colocou-o no dvd, e mais uma vez o espaço transformou-se - à sua volta não existiam mais os mesmos móveis, o mesmo chão, o mesmo tecto - estava sentado num puff voltado para a televisão, de imagem negra e estanque. Levantou-se a correu até à janela, admirando o novo mundo. Só 180 minutos, só 180 minutos lembrava-se. Descalçou-se e avançou para o jardim, caminhando sobre pedras reboludas. A vida nunca tem este sentido, nunca me lembraria de plantar macieiras no quintal, de espalhar pedras em volta de espelhos de água, nem nunca imaginaria um relvado a tocar no infinito. Nunca, nunca a ficção se aproximara tanto de um sonho. Nunca a realidade se turvara tanto aos olhos enganando os sentidos.
100 minutos e o por do sol era indescritível.
Voltou a casa para ser surpreendido. Sabia que alguém o esperava, e a ansiedade incendiava-lhe as mãos. Ela, ela, ela. Ela está à minha espera. E sabia do risco de se apaixonar e de se perder no sonho, sabia que os sentimentos moldavam a razão e o levariam a actos de loucura. Cerrou os punhos e avançou. Mordeu os lábios, a língua. E assim que a viu nasceram rosas por toda a casa. Estremeceu.
O que é a vida senão a certeza da conquista? E porquê o risco de nos perdermos na ilusão e vivermos eternamente em desacordo com a realidade?
30 minutos e a conversa não poderia durar mais. Pensou tenho que voltar, tenho que largar os sapatos de cristal e voltar à objectividade e as lágrimas correram-lhe dos olhos em direcção ao jardim.
Olhou para a televisão e pôde ver a sua vida naquela imagem negra, em tudo vazia.
Olhou para ela. Desligou a luz. Desistiu da vida e viveu eternamente no sonho, mesmo sem luz, mesmo sem certezas, conquistando a realidade.