Cinza
A cinza do cigarro cai-me pelos dedos, desliza-me no braço. Não chega ao cotovelo e, só por teimosia, tomba-me num calcanhar.
A cinza do cigarro corre com o vento e desvanece-se no chão, por entre os meus dedos dos pés.
A cinza do cigarro é a cinza dos meus dias: ainda incandescente, desce-me todo o corpo até ao chão, queimando-me a pele, fugindo por entre o vento - pelo tempo - até que, já extinta, se vem entranhar na planta dos meus pés.
E eu ando assim, por cima da cinza, por cima de mim.