“Navego num mar de palavras e vejo os teus olhos, mais castanhos do que o costume, agitados, agitando a incerteza e a certeza dos passos, a prepotência do tempo que não pára e a angústia de tudo o que não se sabe, de tudo o que se deixa, levando ao mesmo tempo. O dom do esquecimento não o quero ter e a capacidade de partirmos com a calma das aves migratórias é difícil de alcançar. Essa calma que nos deixa ir para sonos profundos e sonhar sem medo de lembrar. Não vejo o tempo lá fora. Os vidros, com a noite, ficaram autênticos espelhos e, mais uma vez, só consigo ver o reflexo do que me vai na alma. O tempo lá fora é algo distante. Do vento que sopra nem conheço o som. Cá dentro a vida são palavras que deixo aqui escritas para que assim fiquem. Para que assim permaneçam.
Tu que compreendes os meus assaltos de fúria, o sangue vermelho revolto nas veias, a vontade de fazer mais, sempre mais, comprende esta calma. Uma calma tranquila demais ao ver-te partir. Uma calma silenciosa, pois não posso agitar a minha crina. Só posso dizer que sim, sim mansamente, ao que sei que é bom para ti.
Às vezes parece que vivemos mais depressa do que pensamos e quando pensamos, já não sabemos o que se passa. Neste momento já não sei se escrevo ou se foi o mar dos pensamentos que me assaltou as palavras. Apetece-me escrever-te. Escrever-te sem pensar nisso. Como se falasse, contrariando as barreiras do lógico. Só para te ouvir escutar. Só para te ver responder.
Depois de tudo, a síntese: quando duas vidas se abraçam, o tempo e o espaço não contam.”
Ana Teresa Silva in dizer-te