sexta-feira, dezembro 30

jus

porque os meus dias se encheram de ti, e não consigo calar o coração em chama. se todos os nós que me atravessam permanecem sem querer. e sem querer penso, sem querer penso e aqui habito como estrela violenta nos lençóis da carne, a arranhar as horas e os relógios em volta. nunca vi a noite. hoje sei que o tempo se desdobra em tempos equivalentes à espera. não existe noite. e tu vives no meu ventre sem os corpos em volta, sem matéria inepta. a ti, nada é merecedor. e só para ti viverei num livro onde o mundo não entra.

endereço



agora as tuas palavras mudam de sítio. transladam-se. para um lugar onde a força que as inunda só a ti pertença. para um lugar só teu.

quinta-feira, dezembro 29

inclinação.da alma

o meu sangue está mais vermelho, e ígneo corre entre a carne e os tendões que se incendeiam nos teus dedos. tu és a força que me irrompe o peito e esgota o mundo de tudo o que existe, e assim tenho os meus dias. como se o teu rosto e o meu rosto formassem uma barragem e tu, como o princípio das coisas, nos enchesses de ouro. ou chegada a noite me talhasses o sono com a respiração e num coágulo te prendesses na minha garganta. o tempo não basta. eu já não durmo. e pacientemente espero que as horas durmam.

domingo, dezembro 25

I don't want to go to the seal's watershed

quando voltares, vou estender-te as mãos - em tom violáceo, da asfixia - e dizer olha, olha o que me fez a saudade. e depois, como se só esse fosse o antídoto, vou esperar que me abraces e me leves para casa.

praevisu


voluptuoso o céu das minhas noites, onde tudo é cinzento à tua ausência. estás tão longe e tão perto do âmago de tudo aquilo o que sou - onde habitas desde que disseste o meu nome. e lembro-me bem dos teus olhos e das centelhas que emanadas persignavam o meu rosto - tânia, dizias tânia - e aos teus lábios o meu nome era um cântico doce, nos teus lábios o meu nome ainda é um mundo novo de melodias desconhecidas onde o efémero não tem lugar. e mesmo à distância eu consigo ouvir o som terno da tua voz a dizer tânia, tânia com todas as letras como nunca ninguém disse - posso até ver os teus olhos e prever o movimento das tuas mãos, o que vais dizer a seguir - e ouvir no meu corpo o poema que escrevi na tua boca.


sábado, dezembro 24

merry xmas


Have yourself a merry little Christmas.
Let your heart be light,
From now on our troubles
Will be out of sight.

Have yourself a merry little Christmas,
Make the Yule-tide gay,
From now on our troubles
Will be miles away.

Here we are as in olden days,
Happy golden days of yore,
Faithful friends who are dear to us
Gather near to us once more.

Through the years
We all will be together
If the Fates allow,
Hang a shining star
On the highest bough,
And have yourself
A merry little Christmas now


Ralph Blane

quarta-feira, dezembro 21

imagina


imagina hoje à noite a gente se perder
imagina
imagina hoje à noite a lua se apagar


Tom Jobim/Chico Buarque

terça-feira, dezembro 20

pintar-te


só numa tela branca
onde possa derramar todas as cores
e deixar o sol entrar


caminho


digo-te a lua está mais bonita e há na tua pele insígnias dessa luz. marcas do poder da palavra e só lançá-la no teu sangue - em todas as artérias em flama - em magnificência. e entornar-me na tua cama, penso, manchar os teus lençóis deste amor e assim tatuar o teu corpo. no movimento intente do meu rosto em concha no teu rosto. mesmo que o mundo acabe. nem que o mundo acabasse cessaria amar-te. pensar-te assim e querer o mundo todo. pedir que me desapertes o peito e abrigar-me no teu, onde morrer é perder-me de amor.

sexta-feira, dezembro 16

ensaio.3


e só isto me ocorre: que o lugar do meu corpo não me pertence mais,
que das tuas mãos nascem flores todas as manhãs.

ensaio.2



quarta-feira, dezembro 14

a new day


Fora da minha janela cai o sol sobre o que era perdido, e não há qualquer nome para descrever o momento. Lá fora perdem os dias sentido, e de nascente a poente ganham os dias sentido num percurso regrado pela imagem dos teus olhos. Dentro do meu peito em desenho de odisseia, numa força bruta que quer explodir no teu corpo e no teu corpo avigorar. Pelo teu corpo dentro e dentro da tua pele numa linguagem inesperada de quem brinca com o destino e é assolado de ternura. Do conforto das tuas mãos aquando a surpresa da ruína e da simplicidade dos teus cabelos. Ao teu lado esquecer tudo e só querer a ternura - adormecer ao som da tua voz e da palavra amor que se encontra onde mais ninguém encontra - para acordar nos teus lábios.


quinta-feira, dezembro 8

ao horizonte


talvez dizer-te o nome do medo de às tuas mãos me entregar, ao ouvido baixinho como o mundo é pequeno quando as horas passam, e que à distância só lembrar-te num sorriso maior. Talvez podendo dizer-te as palavras e esquecer o mundo onde ser feliz não cabe, caber só nas tuas mãos e com todas as palavras construir o poema na tua boca.


domingo, dezembro 4

horizonte


desta vez não vou pedir que à ausência compreendas as feridas
ou ainda que me segures as mãos na embriaguez do teu perfume
desta vez
vou deixar que me invadas e me enchas de alento
e que do alimento das árvores me preenchas a cada dia

desta vez
vou dar-te a mão e levar-te até ao mar
e falar-te do fio onde o infinito se esconde



segunda-feira, novembro 28

recompensa


Pouco a pouco, o inverno encobre-se no meu corpo num ninho de frio até ao alvorecer, e aos meus pés a indiferença é vaga.
Haja talvez um sonho que me acorde veementemente e suavize a tristeza que assolou o teu nome e letra a letra o mascarou com o nome do demónio. Para que todos os rostos se apaguem e eu me apague de mim, para que nunca mais seja a quem a minha tristeza não serve.
Para que um dia, quando o escurecer for quente e já não houver mais ninhos, possa ser eu a indiferença e estranhar a tua dor.

quinta-feira, novembro 24

vermelho


talvez o sangue seja cúmplice da pele
talvez
se eu fincar a noite nos olhos
e te ouvir dizer amo-te outra vez
talvez os afogue em carmim
e te crave as unhas no peito uma a uma
talvez
eu tenha já enlouquecido


libertação



terça-feira, novembro 15

amicitate


Houvesse nos sonhos um caminho de crinas entrançadas, e em paralelo fios de seda a imitar a paisagem – as luzes, as cores, o asfalto molhado.
Houvesse um caminho regrado pelas cortinas da tua voz, em looping constante até à tua imagem. E pudesse eu novamente deitar-me à tua beira e entornar, à cabeceira da cama, todos os rumos que a vida nos faz tomar, e que nem tu nem eu podemos entender.
Houvesse um caminho para te poder pegar na mão e dizer que sinto a tua falta – a falta de ti, do teu abraço, do teu sorriso – da cerveja ao fim da tarde, da alegria, e de te oferecer a ponta dos meus cigarros.
Houvesse um caminho de onde estou agora até ao reconhecimento das minhas palavras, pois só tu as poderás entender, e pudesse eu parar os teus olhos. Para neles parar os meus e dizer-te que, melhor que todas as paixões, conhecer-te foi tanto mais.
Tanto.

sexta-feira, novembro 11

terça-feira, novembro 1

distância


“(…) I feel just like I'm living someone else's life, it's like I just stepped outside when everything was going right… and I know just why you could not come along with me, this was not your dream, but you always believed in me. Another winter day has come and gone away, in either Paris or Rome, and I wanna go home… let me go home. And I'm surrounded by a million people, I still feel alone (…) let me go home, it'll all be alright, I'll be home tonight, I'm coming back home."

Michael Buble

segunda-feira, outubro 24

give me the words


"In a manner of speaking, I just want to say that I could never forget the way you told me everything by saying nothing. In a manner of speaking I don't understand how love in silence becomes reprimand, but the way that i feel about you is beyond words.(...)"


NOUVELLE VAGUE - In a Manner of speaking

sábado, outubro 22

et tes yeux, et tes mains, sont tout que je trouve dans la nuit


Gostava de poder escrever os teus lábios e as linhas negras que te pintam o corpo, e que tantas vezes encontro projectados na noite. Escrever e eternizar os teus olhos em assalto aos meus na luz ténue do teu quarto. Ou o momento do silêncio focado no tecto, quando sorri e te acusei de sentires a falta dela - quando te abracei e admiti também não saber do esquecimento - e consentimos na ternura a persistência da memória. Escrever. E então, para que o destino nunca se esqueça do caminho que nos fez cruzar, que só isso fique escrito.

sexta-feira, outubro 14

quase sem


E se agora te dissesse que nem mesmo o engano te levou do meu sono – ou te falasse da imensidão do escuro à tua ausência – decerto pensarias que alucino. E às vezes mesmo eu fecho os olhos e cerro os dentes com força à espera que a angústia vá. À espera que a angústia vá, e ela nunca vai. Ou então que venha o inverno, devagarinho, e faça nevar por toda a cidade, para pedir que me recebas só mais uma vez com um cobertor nas mãos, com um sorriso nos lábios. Para que te rias novamente de mim por não me ter importado com a chuva e me abraces, me abraces muito.

quinta-feira, setembro 29

(sin)


Tocava-me, inconsolavelmente tocava-me à espera de um entendimento, como se as manhãs fossem campos lavados de orvalho que, ao aparecer da claridade, vislumbrassem a purificação. Ou, como se da escuridão surgisse o engano e nós, sedados do sono, pudéssemos seduzir o destino.
Sem tempo ou espaço para um corpo nu – e não era aquilo - uma pele branca isenta de paisagens, sem entendimento. Não era aquilo. Não era aquilo e quando veio a noite veio o arrependimento. Como se fosse pecado o adormecer de um corpo, que não o teu, onde tantas vezes te amei e tu nunca me amaste.

sábado, setembro 24

quarta-feira, setembro 21

songs



Esperar, ou dizer-te baixinho entre o assobiar dos pássaros que, à falta das tuas mãos e dessas linhas negras que te circundam o coxis, o céu enche-se de um negro enorme e as cidades apagam-se mesmo antes do anoitecer. Ao longe fixar-te, ao longe dizer-te o teu nome inteiro e o teu sorriso, que o tempo do sono das safiras morreu e já é tempo de te esquecer, meu amor – todo o teu corpo e a tua carne numa despedida só – e não, nunca quis esquecer-te. Mas esta noite, como se fosse escrito, sei que um anjo volta para me dizer baixinho que outros pássaros estão para cantar.

quarta-feira, setembro 14

halves



between two castles, what shall one do with a divided heart?

sexta-feira, setembro 9

guardado entre mãos


nunca fui diferente
quando o que é ser diferente não existe na diferença,
numa única cidade uma rapsódia de cores
numa única cidade e todos os pecados num só
onde as minhas mãos foram tantas mãos,
desde a mala vermelha a deslizar pela estrada
e os óculos escuros a esconder as lágrimas,
depois do medo das ruas, e do terror da saudade
de me perder nos teus olhos e adormecer em mim,
[aqui]
nunca fui diferente e sempre fui diferente
e devagarinho agora, sem areia nos pés
a espreitar o passado e a recordar sorrisos
[mesmo que seja breve]
vou regressar a mim

quarta-feira, setembro 7

voltar | v. int. | v. tr. | v. refl.


do Lat. *voltare, *voltu por volutu < volvere, voltar, volver
v. int., ir de novo para o ponto de onde se partira; regressar; tornar a ir ou a vir; reaparecer; girar; turvar-se (o vinho);
v. tr., mudar para posição anterior; mudar a direcção de; fazer mudar de opinião; replicar; dar em troco;
v. refl., virar-se; recorrer; toldar-se

quarta-feira, agosto 31

one year later



e de seguida,
vou seguir os caminhos que tantas vezes saltam das minhas mãos

sábado, agosto 20

saber



cansada [ombros em baixo] e tudo em demasia
cansada e a saltar as horas
mesmo sem dormir [eu sei]
é sempre bom ter-te à minha espera

domingo, agosto 14

desejo


à noite, todas as noites um arrepio gélido corre-me pelo corpo
uma lembrança ingrata e queria tanto dizer-te,
queria tanto dizer-te que ainda ontem fui ter contigo
e tu sorriste e desviaste o olhar e o meu peito ardeu,
como daquela vez em que acordei à noite
e não tirei os olhos de ti até acordares
como se soubesse aquela noite a última noite,
quando a terra abriu quando o dia veio
para me largar na noite e na escuridão à tua falta
e queria tanto dizer-te, tanto
que agora quando tudo é dia
só lembrar-te a ternura e o peito arde
a desejar um abraço antes da partida

domingo, julho 31

por ti deixei por ti voltei


nas tuas mãos acabam as cores dos abismos e da escuridão
como se morada fossem para um sorriso
nas tuas mãos recordar é correr atrás de ti
e pedir que não entres no mar
para que não te esqueças de mim pelos teus caminhos
ou então pedir que me dês a mão
e me acompanhes por florestas cerradas e noites de insónia

sobrepostas ao tempo
nas tuas mãos um arco-íris começa e um arco-íris termina
num caminho feito de estrelas onde nunca me perco

terça-feira, julho 19

domingo, julho 17

pouco a pouco menos um pouco


aqui, onde o sol nunca enternece
o sexo pousa inclinado sobre os telhados
e as memórias mergulham fundo atravessando o meu ventre
e choro a minha cidade na palavra saudade
onde sempre, e tal como tu me disseste
perdemos os dias e o ganho das horas
e todas as conquistas parecem ingratas
aqui, choro esta terra perdida em excessos
no veneno do corpo nos poros da pele
vencer mais um pouco um pouco a cada dia
e morrer mais um pouco à hora de dormir

segunda-feira, julho 11

dedicatória



onde quer que estejas agora
sei que me ouves neste meu silêncio
a pedir que voes alto nesse azul eterno
onde é sempre dia e nunca anoitece
e só pode ser assim
só pode ser assim esse sítio que tantos dizem
melhor que este
- tão bonito como tu -
e na minha memória eternamente
eu pequenina, tu cheia de amor
a abrir o armário e a oferecer-me um chocolate
as tuas mãos eternas os teus olhos doces
descansa agora avó e dorme o teu sono
connosco em todo o tempo todo o teu amor

sexta-feira, julho 8

disseste que poderia ser só um tempo




Ou então, que talvez fosse melhor ficarmos só assim. E hoje pergunto-te o que só assim significa, ou se foi por te ter dito que não, que sei de mim o suficiente para não saber da espera, que me passaste a odiar.

quinta-feira, julho 7

quarta-feira, julho 6

de olhos fechados


Tive o teu corpo esta noite: o teu corpo entre os meus braços; um corpo frágil que imitava o vento no meu.
Tu: nos meus braços outra vez; um corpo magro mais doente que nunca; foram só as lágrimas e o sorriso sincero (a felicidade entre os teus lábios) onde estiveste este tempo todo? o que te fizeram, que aconteceu?
Nos teus braços: não, nos meus braços, ou os teus braços nos meus braços; num abraço; digo se precisares de alguma coisa sabes que podes contar comigo, e num sorriso afastas-te como se o orgulho fosse mais forte.
Tive o teu corpo esta noite: a noite toda, acho; tive o teu corpo esta noite depois de chegar a casa; quando antes no posto dos correios julguei ver-te com um saco azul na mão à minha procura; quando antes no posto dos correios me rendi à razão que tanto procurei e só em ti achei; na recordação, na ilusão.
Tive o teu corpo esta noite: toda a noite entre os meus braços; e a manhã levou-te.
A manhã levou-te e deixou só a loucura que acontece no sono.

Quanto tempo mais.

segunda-feira, junho 6

overdose


um quadro em branco
- aquilo em que te tornaste -
uma tela branca de sonhos rasgada
em lugar nenhum,
em nenhum olhar;
todas as noites te pinto e todas as noites te agarro
- as mãos o cabelo -
e acordo assustada;
não entendes o sonho
não entendes o nada,
não entendes o sangue ou as feridas que abrem;
todas as noites te pinto e todas as manhãs te rasgo,
um quadro em branco
- a memória entornada -
escondi os pincéis em overdose de tinta;
desejei não seres nada

quarta-feira, junho 1

as she said he said


"(...) Sex is the consolation that you are left with when you do not attain love."


Gabriel García Márquez

quarta-feira, maio 25

a new place is gathered


I could say
look at what you’ve done
look at these wounds deep inside my chest
and at those blades which replaced your fingers
they seemed so bitter
and they seemed so sweet
covered with night reflections;
this – is what I’ve learnt
night it also sleeps
and there’s a weak barrier between sleep and madness
and only two sapphires could wake me up;
it is crazy
and it is sheer folly
when a man has to lick his own tears
when a man has to drink someone’s poison
to heal his heart
to clean his blood
and kill the pain that time can only ease;
I could say
but I don’t give a fuck;
I am no man
and I refuse to suffer
so I opened my chest in rage
and pulled my heart away;
now I’m only blades
and now I’m only knifes
so if you’re looking for an heart
please – stand back
‘cause a new place was gathered
and only poison you will find.

terça-feira, maio 17

eu sigo o meu caminho


"(...)
Só eu sei quantas vezes fiz tudo para te ver,
só eu sei quantas vezes não consegui adormecer.
Só eu sei quantas vezes tentei respirar o ar que respiras,
sentir o que tu sentes, viver as duas vidas.
But i’m feeling good, espero que sintas o mesmo neste momento,
a vida são dois dias e ninguém pára o nosso tempo.
O teu sorriso passa tudo o que já eu tenha visto e é por isso que eu persisto.
Dá-me mais, quero mais, sempre mais, quero conhecer os teus ideais,
compreender para onde vais a seguir.
Mas por agora o melhor talvez seja eu estar bem sozinho.
(...)"


Expensive Soul - quero ver-te outra vez

domingo, maio 8

quarta-feira, maio 4

trap




always that wall between us
with sharpen skewers
- moving -
closer and closer
I didn't mind

(now let the water flow)

domingo, maio 1

cocoon




save me (throw me to a box) hide me
hold me (push me) love me
leave me (cut my words) kill me

sábado, abril 30

o meu o teu o fim


Um livro aberto:
Folhas presas, dedos soltos, o tempo da espera.
Palavras sumidas, escondidas num qualquer canto propositado
- palavras que se restringem, e a memória que escorre -
outros livros, outras letras,
páginas que se colavam aos dedos na fúria de serem lidas.
Um livro por fechar:
O tempo de partir.
Tempo de largar os óculos e deixar de tentar ler o que não pode ser lido.
Um início restrito - um meio para um fim.
Cedo,
quando a noite vier,
vou voltar para os meus braços
e esperar que o amanhecer me devolva o exemplo das águas.
Assim, após cada queda e fiel ao meu caminho,
atingirei o meu fim.

domingo, abril 17

amanhã


Distúrbio:
um sorriso inquieto ao amanhecer.
O sol a brincar nos teus olhos.
Dizes acho que gosto demasiado de ti,
e um lugar estranho ocupa tudo aquilo que és.
Não te sinto perto – nunca te senti perto.
Pergunto sempre onde foste e nem sei de onde surgiste.
Nunca sei dos teus olhos.
Só a memória – restrita, ausente, incapaz.
Só a memória e o amanhã não existe.
E sei,
por todos os caminhos que vagueiam nas minhas mãos,
que o amanhã não existe e que amanhã não existes,
pois se me consumiste toda em insatisfação.
Nunca fui tua.
Tiveste-me entre mãos e eu nunca fui tua.
Vivi nos teus olhos, na tua cama,
rente ao teu corpo tantas vezes e tantas vezes me perdi.
Não preciso de ti.
Não preciso de ti.
Não preciso de ti assim como ninguém precisa de quem nunca se dá.
Assim como ninguém quer um fim traçado ao início.
meio-fim


Nunca poderás dizer que nunca me dei.
Nunca poderás ver os meus olhos,
perdidos de medo,
a jurar um prenúncio de morte.
Já não sei mais que a escolha gratuita dos homens,
que a vulgar tentação da carne rendida ao sol.
Perco-me por entre portas.
Perco-me em copos sujos, saliva oferecida,
sensação abrupta da tua ausência.
Só um sonho e uma ideia ao despertar –
palavras que escorrem do meu peito.
E pergunto, de punhos cerrados, se será isto o fim.
Ou então um começo, efémero enquanto pode,
de mover as pálpebras como quem encerra a noite num segundo.
Tu – és tudo aquilo que nunca me deste.
E eu sou o mundo que nunca terás.
.
Um dia – e tudo muda.

um ombro - duas faces


Só a memória de um fogo incapaz:
um corpo que pulsa rendido, a tua pele branca
– pálida de incertezas –
um corpo afogado na confusão das areias.
Só o tempo se repete.
.
.
Ficaste a saber que o mundo também dorme,
que o mundo também dorme
e só a tua pele apaga as luzes da cidade.
Quando a tua cabeça é sal colado ao meu ombro
– em carne viva –
quando todos os tendões prendem todos os poemas e palavras.
Até que a loucura de dois corpos em chama se apague.
E tudo é breve.
Tudo é breve e só a memória dos teus lábios sobrevive.

sexta-feira, abril 1

another picture of my own


(to those who live in my heart)

again
a tear drop is flying away;
when i move
my soul is the absence
and there is no reason for this
just a folded heart and an empty pocket
praying for refilling;
when i move
there's always a bird singing
the sounds of nothing;
i can say - my hands
will be always waiting for yours
and my eyes
can always reach yours;
and suddenly
i find love this strange thing between us
which will always keep us together.

quinta-feira, fevereiro 10

Parabéns, A.


Estás tão longe e tão perto, e tenho tanto para te dizer.
Mas todas as palavras são poucas para te escrever,
e todas as letras não chegam para contar tudo aquilo que és.
Tantas vezes quis dizer-te,
contar-te, e tantas vezes preferi o silêncio,
calando para mim as palavras,
fechando-as no mundo do medo e da distância.
Não sabia explicar.
Às vezes o destino leva-nos por caminhos que, quando contrariados,
baralham e entristecem vidas, e só não quis baralhar mais as nossas.
Hoje, só posso dizer
que és das pessoas mais bonitas que sei existirem,
que desde que te conheci que encheste os meus dias de sorrisos,
vida,
e de um alento que só os teus olhos me conseguem trazer.
Nunca disse, nunca disse. E todos os dias ainda foram poucos.
A., por tudo o que és,
se um dia alguém me disser que não sabe o que é o amor,
eu vou dizer que o amor é o teu nome.
O amor é o teu nome.

Segredo


Guardo um lugar entre os dois braços em elo
para impedir o estilhaçamento,
e sempre um bolso vazio
onde tento esconder a noite.
Agora,
o vento parou e as horas adormecem nos relógios,
e a serenidade do sono preenche a vulgaridade.
Queria que soubesses
que todo este tempo procurei a razão
para tudo aquilo que dizem estar escrito,
o tempo
as horas
os teus olhos
o beijo que me pediste
os beijos que me roubaste,
e tudo se perde em sentido
pois se tudo o que foi escrito foi isto
que quando a manhã caísse
só voltarias à minha memória
- só os teus olhos nos meus olhos fechados -
e um vazio no horizonte.

sexta-feira, janeiro 7

o tempo é um floco de gelo que nunca caía em celeridade


ontem,
as horas e os dias existiam soltos num lugar deserto
num imaginário de aspirações longínquas
- em curva, por um caminho estreito que me trouxe aqui,
e me mostrou a solidão que acelera os relógios
.
eu sei que desde que me afundei nos teus olhos,
o tempo parou para em seguida voar
para correr em flecha por um novo vácuo,
uma ferida aberta num lugar deserto,
onde as flores secam e as palavras morrem
.
agora,
tenho para mim que o tempo preenche um lugar escuro,
um lugar estranho pela exactidão
que encolhe os dias e as camisolas,
o lugar na cama e os teus lençois
.
o tempo já não navega
e rouba-me os dias sem o teu olhar
.
um mês, C.
um mês e este lugar vazio que o tempo não preenche

quarta-feira, janeiro 5

pensei que regressar era voltar a mim



...                        tal como se aguardam os barcos que dormem em alto mar