terça-feira, dezembro 30

Innuendo


Eu sei, sempre o início depois do fim. Sempre o amanhecer depois da noite, o olá depois do adeus. Nem precisas de me dizer que o tempo segue sempre o tempo.
Embora haja coisas que se perpetuam pela memória, pelo sangue no sangue, outras há que se deixam rasgar pelo tempo, ou o inevitável. O mal, o mal todo, está nas expectativas que depositamos nas coisas, porque se nos tivessem ensinado a sonhar com o inevitável, com o efémero, nunca nos deixaríamos abater pela desilusão. E tudo isto não joga nunca a favor de um pessimismo, mas sim da vontade plena de optimizar o sonho, atribuindo-lhe um início e um fim, mesmo que esse fim seja a eternidade. Assim haverá sempre mais, mais e mais sonhos, como se por cada fruto que caísse de uma árvore nascessem dois, ou como a teoria da divisão das almas.
Vem – vem aí o ano novo. E mesmo que eu não queira acabo sempre por lhe atribuir uma responsabilidade decorada, fruto de desilusões passadas. E será sempre assim – um ano após o outro. Um ano novo a sobrepor um velho, um sonho a substituir outro ou a acrescentar o mesmo.
É agora, é agora, e deste ano não passa – dizemos, mas estas são só palavras cheias de coragem a tentar bater a ingenuidade.
Parece não ter nada a haver, mas a passagem de ano faz-me sempre recordar as palavras do meu pai, sempre que se partia um copo: Se os copos não se partissem, as fábricas fechavam. Pois é pai... e se os sonhos não se quebrassem, deixávamos de sonhar...

segunda-feira, dezembro 29

Se tanto me dói que as coisas passem



Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante
em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem



Sophia de Mello Breyner Andresen


Taking my time


Still Dreaming


sexta-feira, dezembro 19

Let me in


Let me in


It's two in the morning
And I'm calling your name
Your voice on the line is
So far away
And my heart reaches out there
And finds you gone
You walk a path lonely
But you're never alone

And I'm begging you please
Please
Let me in
Please
Please
Let me in

I know there are times when
In ashes you lie
Each one has a shadow
We can't deny
But there in your darkness
Living your pain
Wanna wrap you in love, babe
Again and again

I'm begging you please
Please
Let me in
(...)



Lamb - Please

quinta-feira, dezembro 18

Persistência da memória


Aprendi contigo que afinal o tempo não desaparece como os fracassos da memória. Afinal o tempo persegue-nos... Por isso esquece, esquece de uma vez essa ideia de que tu é que me persegues, pois é ele - o tempo - que insistirá sempre em trazer-nos de volta.

segunda-feira, dezembro 8

I just drive


I just drive


(...)
I know it's late now I know I
Ought to go
Ride in your car now
But please don't drop me home
My head's so heavy
Could
This be all a dream
Promise me
Maybes and say things
You don't mean
Rain fall from concrete colored skies
No boy don't speak now
You just drive
(...)



Bic Runga- Drive

sexta-feira, dezembro 5

Welcome to DreamBuster


Pensou hoje não quero nem a minha casa nem o meu quarto, nem as pessoas à minha espera. Pensou se tudo farta vou entrar no sonho, vou até à DreamBuster alugar outro espaço. E percorreu as prateleiras do clube de sonhos até encontrar um que o preenchesse. Levou-o para casa, colocou-o no dvd, e mais uma vez o espaço transformou-se - à sua volta não existiam mais os mesmos móveis, o mesmo chão, o mesmo tecto - estava sentado num puff voltado para a televisão, de imagem negra e estanque. Levantou-se a correu até à janela, admirando o novo mundo. Só 180 minutos, só 180 minutos lembrava-se. Descalçou-se e avançou para o jardim, caminhando sobre pedras reboludas. A vida nunca tem este sentido, nunca me lembraria de plantar macieiras no quintal, de espalhar pedras em volta de espelhos de água, nem nunca imaginaria um relvado a tocar no infinito. Nunca, nunca a ficção se aproximara tanto de um sonho. Nunca a realidade se turvara tanto aos olhos enganando os sentidos.
100 minutos e o por do sol era indescritível.
Voltou a casa para ser surpreendido. Sabia que alguém o esperava, e a ansiedade incendiava-lhe as mãos. Ela, ela, ela. Ela está à minha espera. E sabia do risco de se apaixonar e de se perder no sonho, sabia que os sentimentos moldavam a razão e o levariam a actos de loucura. Cerrou os punhos e avançou. Mordeu os lábios, a língua. E assim que a viu nasceram rosas por toda a casa. Estremeceu.
O que é a vida senão a certeza da conquista? E porquê o risco de nos perdermos na ilusão e vivermos eternamente em desacordo com a realidade?
30 minutos e a conversa não poderia durar mais. Pensou tenho que voltar, tenho que largar os sapatos de cristal e voltar à objectividade e as lágrimas correram-lhe dos olhos em direcção ao jardim.
Olhou para a televisão e pôde ver a sua vida naquela imagem negra, em tudo vazia.
Olhou para ela. Desligou a luz. Desistiu da vida e viveu eternamente no sonho, mesmo sem luz, mesmo sem certezas, conquistando a realidade.

Partida


Tudo o que é tristeza vem
de não mais ver os teus olhos
ou deste véu que estendi em mim
e eu sei porque dói ver-te partir
carregando o engano e a ausência
da minha palavra.

Não há palavras
apenas eu posso estender os braços
no infinito
mesmo temendo o futuro
não querendo dizer a palavra
ou o que talvez fosse certo.

E é assim que te vejo partir
mochila às costas cheia de desilusões
e sempre um cantil cheio de lágrimas.


Será que me entendes?
É que nem eu me entendo a mim própria.

quinta-feira, dezembro 4

terça-feira, dezembro 2

Sleep to Dream


"I tell you how I feel, but you don't care
I say tell me the truth, but you don't dare
You say love is a hell you cannot bear
And I say gimme mine back and then go there - for all I care

I got my feet on the ground and I don't go to sleep to dream
You got your head in the clouds and you're not at all what you seem
This mind, this body, and this voice cannot be stifled by your deviant ways
So don't forget what I told you, don't come around, I got my own hell to raise

I have never been so insulted in all my life
I could swallow the seas to wash down all this pride
First you run like a fool just to be at my side
And now you run like a fool, but you just run to hide, and I can't abide

I got my feet on the ground and I don't go to sleep to dream
You got your head in the clouds and you're not at all what you seem
This mind, this body, and this voice cannot be stifled by your deviant ways
So don't forget what I told you, don't come around, I got my own hell to raise

Don't make it a big deal, don't be so sensitive
We're not playing a game anymore; you don't have to be so defensive
Don't you plead me your case, don't bother to explain
Don't even show me your face, 'cuz it's a crying shame
Just go back to the rock from under which you came
Take the sorrow you gave and all the stakes you claim -
And don't forget the blame

I got my feet on the ground, and I don't go to sleep to dream
You got your head in the clouds and you're not at all what you seem
This mind, this body, and this voice cannot be stifled by your deviant ways
So don't forget what I told you, don't come around, I got my own hell to raise"


Fiona Apple