domingo, outubro 31

durante a noite


Percorro a casa, morna e escura; encaminho os pés desnudos pela alcatifa mole; procuro a claridade. Na janela encontro luzes de uma qualquer cidade - não, o brilho das estrelas não é o mesmo, e o cheiro da madrugada afasta-se das minhas memórias.
Lisboa, penso, tem um brilho incomparável, e todas as cores contrastam com a minha alma. O cheiro, as gentes, as ruas apertadas, a confusão dos dias, o rio, o coração a viajar com as mãos no volante.
Lisboa - Lisboa - na minha cidade tudo brilha e tudo é sempre sol, e quando a noite cai mil sorrisos inundam as ruas onde sempre mergulho.
Aqui, quase sempre é noite e mal aprendi a nadar. Aqui, apetece-me riscar os tectos e escrever o teu nome em todos os cantos.
Lisboa - deixa chover - amo cada das pedras das tuas calçadas, e sonho os meus pés desnudos sobre elas. Lembro-me do Tejo, dos meus olhos soltos na água, das mãos dadas aos amigos, da casa, da família, do coração a brilhar contigo.
Lisboa, só Lisboa.

Lisboa e todas as palavras não chegam para dizer que só a ti pertenço.

sábado, outubro 23

um dia e tudo muda


os teus ombros o teu sorriso
o teu corpo abraçado aos meus ombros
o meu corpo enroscado no teu sorriso
pergunto estás aí e só um sopro vem da janela
manhã coberta nas minhas mãos
o teu corpo o teu sorriso
a oferecer-me a ferida que só o sono acalma
manhã coberta de memórias nos teus ombros
e um reflexo de tempestade

segunda-feira, outubro 18

I can't stop pretending




with tomorrow


It was more like a dream than reality
I must have thought it was a dream while you were here with me
When you were near I didn't think you would leave
When you were gone it was too much to believe

So with tomorrow I will borrow
Another moment of joy and sorrow
And another dream and another with tomorrow

So if there some day won't be time just to look behind
There won't be reasons, no descriptions for my place and mind
There was so much I was told that was not real
So many things that I could not taste but I could feel

So with tomorrow I will borrow
Another moment of joy and sorrow
And another dream and another with tomorrow


This Mortal Coil (Gene Clark)


sexta-feira, outubro 15

just vulnerable


encontro-me no desconforto
e subitamente desconheço-me;

a chuva
– outra vez a chuva no meu telhado –
outra vez a vontade de desvanecer
num estado amoral
solitário
(totalmente só)
ninguém;

outra vez a chuva no meu telhado
a escorrer pela garganta
a estalar as unhas
a bússula
e a cobrir a almofada de um desespero
de quem quer só saber de que é feito o medo
do que serão feitas as coisas que nos levam a um fim
quando nunca antes iniciadas;

depois

o orgulho a ranger nos ossos
a desilusão
por não saber calar a vulnerabilidade

terça-feira, outubro 5

lost beauty


don’t invent me
- she said -
I can hardly see the sky
like your eyes can;
you can draw my name in the sand
in the sand letter by letter
though the sea will hit the shore
though the sea will fade your dream
- and suddently she smiled while rain was catching her eyes -
life;
it’s crazy to be alive
and each night becomes more difficult
every night;
nobody;
no direction
-
and she turned her backs to me
rushing away in a kind of play
(that night)
rain was performing

domingo, outubro 3

one day i'll ask you for a dream


behind the obvious
such sensible reflection
of metaphors and fragments
- of music -
capable of
in any stave
build a symphony
exquisitely beautiful