sábado, abril 30

o meu o teu o fim


Um livro aberto:
Folhas presas, dedos soltos, o tempo da espera.
Palavras sumidas, escondidas num qualquer canto propositado
- palavras que se restringem, e a memória que escorre -
outros livros, outras letras,
páginas que se colavam aos dedos na fúria de serem lidas.
Um livro por fechar:
O tempo de partir.
Tempo de largar os óculos e deixar de tentar ler o que não pode ser lido.
Um início restrito - um meio para um fim.
Cedo,
quando a noite vier,
vou voltar para os meus braços
e esperar que o amanhecer me devolva o exemplo das águas.
Assim, após cada queda e fiel ao meu caminho,
atingirei o meu fim.

domingo, abril 17

amanhã


Distúrbio:
um sorriso inquieto ao amanhecer.
O sol a brincar nos teus olhos.
Dizes acho que gosto demasiado de ti,
e um lugar estranho ocupa tudo aquilo que és.
Não te sinto perto – nunca te senti perto.
Pergunto sempre onde foste e nem sei de onde surgiste.
Nunca sei dos teus olhos.
Só a memória – restrita, ausente, incapaz.
Só a memória e o amanhã não existe.
E sei,
por todos os caminhos que vagueiam nas minhas mãos,
que o amanhã não existe e que amanhã não existes,
pois se me consumiste toda em insatisfação.
Nunca fui tua.
Tiveste-me entre mãos e eu nunca fui tua.
Vivi nos teus olhos, na tua cama,
rente ao teu corpo tantas vezes e tantas vezes me perdi.
Não preciso de ti.
Não preciso de ti.
Não preciso de ti assim como ninguém precisa de quem nunca se dá.
Assim como ninguém quer um fim traçado ao início.
meio-fim


Nunca poderás dizer que nunca me dei.
Nunca poderás ver os meus olhos,
perdidos de medo,
a jurar um prenúncio de morte.
Já não sei mais que a escolha gratuita dos homens,
que a vulgar tentação da carne rendida ao sol.
Perco-me por entre portas.
Perco-me em copos sujos, saliva oferecida,
sensação abrupta da tua ausência.
Só um sonho e uma ideia ao despertar –
palavras que escorrem do meu peito.
E pergunto, de punhos cerrados, se será isto o fim.
Ou então um começo, efémero enquanto pode,
de mover as pálpebras como quem encerra a noite num segundo.
Tu – és tudo aquilo que nunca me deste.
E eu sou o mundo que nunca terás.
.
Um dia – e tudo muda.

um ombro - duas faces


Só a memória de um fogo incapaz:
um corpo que pulsa rendido, a tua pele branca
– pálida de incertezas –
um corpo afogado na confusão das areias.
Só o tempo se repete.
.
.
Ficaste a saber que o mundo também dorme,
que o mundo também dorme
e só a tua pele apaga as luzes da cidade.
Quando a tua cabeça é sal colado ao meu ombro
– em carne viva –
quando todos os tendões prendem todos os poemas e palavras.
Até que a loucura de dois corpos em chama se apague.
E tudo é breve.
Tudo é breve e só a memória dos teus lábios sobrevive.

sexta-feira, abril 1

another picture of my own


(to those who live in my heart)

again
a tear drop is flying away;
when i move
my soul is the absence
and there is no reason for this
just a folded heart and an empty pocket
praying for refilling;
when i move
there's always a bird singing
the sounds of nothing;
i can say - my hands
will be always waiting for yours
and my eyes
can always reach yours;
and suddenly
i find love this strange thing between us
which will always keep us together.