quarta-feira, março 29

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e de súbito perder-me - nos teus braços perder-me - nos teus braços encontrar-me. para renascer de cada morte, de cada ausência da tua pele.

sexta-feira, março 24

dentro dos recados

e é assim que eu quero que sejam todos os meus dias, claros, verdes, sempre com três pintas de esperança em suspenso.

domingo, março 5

estados



Olha aqui no meu bolso – mostrei-te – uma palavra. Às vezes tenho os bolsos rotos de quando em quando uma foge por mais pesada. E mesmo agora que os costurei com o cuidado dos pontos as palavras não ficam, e ando a despejá-las uma a uma pelo silêncio.
Todos os meus sonhos. Todos os teus sonhos – penso – e olho para as coisas como se já não fossem minhas, olho para mim. E decerto que se procurares bem nos teus bolsos me vais encontrar, talvez numa palavra, talvez num ponto costurado bem apertado e cerzido na tua pele com a coerência das paisagens. Esta noite sonhei que me tatuavas no peito. Não me lembro de mim. Não me lembro da paisagem. Lembro-me só do teu peito, em amarelo e vermelho num contorno a negro. O teu abraço: sonho sempre com o teu abraço. Não me canso. Do teu peito no meu peito a atear-me as cicatrizes. Lembrar-me que o amor é ferida que dói e não se sente; por toda a minha vida; na alegria e na tristeza. Que há-de um anjo vestido de negro vir e tentar destruir o amor, e que eu destruirei o anjo. Com a força de quem não teme a morte, viver sem ti – digo não existe – morrer sem ti. Só viver contigo, de bolsos cosidos por ti, a oferecer-te palavras.