terça-feira, outubro 13

Tu roubaste - eu vi - tu roubaste. E embora ele não o tivesse feito, e no meio do desespero que é ser acusado por quem se ama, ainda se tentasse explicar com tudo o que entendia por real. Vai à tua vida - vai à tua vida que eu vou à minha. Mas nem mesmo uma palavra a menos poderia evitar o céu de se abater sobre ele. E que nuvens tão pesadas, tão escuras. Nuvens verdes. Surreais. Tantas vezes quis ele provar e acabou ele sem certezas, tantas vezes. E mesmo quando nada parecia valer, o dia não vinha e os olhos inchavam ele gritava justiça com todo o seu amor. Amor. O que é isso o amor? Não, também nunca lhe ensinaram o que é o amor. E ao fim ao cabo, mesmo quando ele pensava já o saber, caía sempre mais uma nuvem. Ah, então é isso - é eu dar e não receber - é eu dar e ainda ser acusado de o roubar. Então é isso - não me atires areia para os olhos - eu vi. Então viste sozinha. Não me faças de parva. Eu é que andei a fazer figura de parvo. Talvez o ódio seja realmente o sentimento mais próximo do amor. Acusá-lo de algo que nunca faria. E espalhá-lo a toda a gente. Eu sei que nunca o farias. Não vale a pena. Quero é que ela - . Quero é que ela -. Não digas, mantém-te íntegro. Sei que não a queres ver nem com um atestado de sanidade e que o ódio de agora não ajuda. Tanto tempo perdido. Tanta luta infrutífera. Tantas provas não vistas. Não, eu quero é que ela se -. Não digas. Mesmo que ela o mereça por dizer aí o que inventa. E a toda a gente. Mas não digas. Cala-te e dorme até a primavera chegar.