quinta-feira, agosto 26

Retorno


Subitamente, perco o controlo nas horas e o coração gira (entre mãos) pelo volante. Lembro-me das palavras e de como o tempo jurava voar quando solto dos teus lábios.

Memória.

Um corpo trémulo, fragilizado por qualquer intempérie, o meu peito em asfixia. Dói-me o corpo todo – dizias – e eu tremia contigo. A mão pelos cabelos, o desejo de um poder maior (pudesse eu curar-te), os joelhos doridos a forçar o chão. Velei o teu sono e só um toque ousei na tua pele.

Retorno no tempo e penso se, ao acordar, deste conta da cicatriz nos meus olhos.

quarta-feira, agosto 25

Vácuo



no sleep


o teu lugar
será sempre este
e é sempre um pranto vê-lo vazio

ouve - um dia - um dia teremos todos os lugares para nós

segunda-feira, agosto 23

Não rasguei as tuas páginas



hold me


olho para as coisas
como se já não me pertencessem
e já nem o meu reflexo as preenche
de tão vazias que ficaram


agora - sem ti - durmo sempre num lugar estranho

quinta-feira, agosto 19

Sacrifice me


hold me


cuida bem de mim
e guarda entre mãos o que é teu
para que
quando eu voltar
possa regressar a mim

terça-feira, agosto 17

Wherever I am I am what is missing


regresso


a última vez que te vi
tinhas os olhos perdidos nos meus
- lembro-me -
estendemos as mãos em gesto de cuidado
e abraçámos os dedos
como quando o mar nos enlaçava
e me pedias para ficar

a última vez que te vi
os teus olhos desbotaram os meus
e num instante fiz a eternidade
- a música -
esse silêncio em contrabaixo
a ocupar o lugar da tua voz
esta inquietude antecipada
de quem não sabe como
desapertar o peito


quarta-feira, julho 21

Sacred Insanity


This insanity comes from the emptiness
and brings my head back from the clouds,
forcing me to recall your words,
your eyes,
your desirable love,
and i feel like
all stars could fall from the sky
and all gods could fall from even...
No tragedy would be worse
than  the impossibility of being with you
again.



sábado, julho 17

Imperícia


Triste insuficiência.
Posso encostar os braços em qualquer corpo,
suspirar onde tu não estás,
e tudo o que vem é a loucura
da tribulação.
Quando tu não estás,
quando tu não estás é ver-te ao longe
ruínas vivas por entre o fumo
os teus olhos fechados a travar um sorriso
impedindo-me de traçar qualquer castigo.
Diz-me,
porque é que os barcos fogem do mar
e as pessoas temem o amanhecer?
Também eu às vezes sem querer,
eu penso que te vou perder,
e que os dias ocuparão o meu lugar em ti,
e seguirás a vida, fugirás da morte,
e largo o mundo num segundo
sem ter para onde correr.
Hoje,
pode a lua faltar num abraço
pode o sol não nascer num sorriso,
que ficarás para sempre como esfera
a deslizar em mim sem equilíbrio,
e se a terra tremer entre os meus pés
vou bradar aos céus que pude um dia
amar-te sem crer que me trairias.


quinta-feira, julho 15

Dedicatória
(para os meus amigos e para quem é de direito)


Só a certeza de um medo sublime
a partida - enevoada pela tua beleza
capaz de talhar qualquer inocência.

Já guardo para mim as palavras,
num egoísmo funesto
de quem não sabe o que levar,
e os dias elevam-se numa exactidão atroz
tentando preencher a memória,
pois sem ti
não há o que recordar.

E na minha memória
aquele hotel diz-se num lance de escadas,
a carpete puída em cada focinho,
onde enlaçámos os dedos num movimento regrado
e largámos as malas antes de subir.

segunda-feira, julho 5

Acerca-te


Não me deixes
desistir de amar todas as rosas
que cuidadosamente plantei no teu quintal
e vi brotar dia após dia,
nem que o céu se encha de negro
e ameace cair sobre o orvalho
e as rosas pareçam murchar de tristeza
expelindo espinhos sobre o meu peito.
Não deixes
que os dias conservem as horas
da infinita queda de um qualquer fado
e esbatam as cores de todas as pétalas
cobrindo-as de pó,
para que nem da tua respiração se apercebam.
Não me deixes - por favor não me deixes
sujar-me de terra, e lama, e esterco
para ver-te chegar a sorrir à janela,
mãos limpas e cabelo à solta,
a chamar-me num canto
com um elogio nos lábios.
Anda,
esquece a loucura - pois se tudo é efémero
e entrega-te à terra de unhas fincadas
e não deixes que morra antes do tempo
a mais frágil de todas as rosas.

terça-feira, junho 29

Picture of my own


mirror


I spread my hands into the mirror
and all I find is this reflection,
a picture that glances
in a memento.

terça-feira, junho 22

Prayer


Forgive me
if I have lost my sanity
and all this days I'm counting
seem to end in tragedy

Forgive me
if I have never prayed
but my head was always floating
dreaming in some sort of cloud
where beauty - disguised as an angel
stole my heart with blossom lips
and filled my soul with such desire,
that no more triumph,
no more faith
could ever bring it back to me
and replace it into my chest.

Forgive me God
if one day after tomorrow
this scar may become reopen
but this love has sharpen edges
edges I have never touched
capable of - in just one move
cripple my heart like a blade.

sexta-feira, junho 18

Assim correm os dias


Mariana


Para ti, que fazes anos hoje, um abraço cheio de ternura.
Que o mundo te seja fiel, Mariana, e te traga toda a felicidade que mereces.

terça-feira, junho 15

Ternura


Na hora de dormir éramos nós
- num só silêncio -
que perdíamos as horas da quietude,
e o tempo voava,
inimigo do nosso desejo.
Mesmo quando me abraçavas
eu podia ouvir o mundo propagar-se,
e cerrava os olhos num aperto
por não poder a eternidade,
e perdoa-me
se chorei nos teus braços
mas só me reconheço neles.

Às vezes ainda acordo de noite
voltando-me num sobressalto
(dispersa no que é teu)
para te procurar,
e só encontro a saudade.
Só a saudade dessa ternura,
do aroma dos teus cabelos,
e dos teus olhos
(lugar)
onde sempre me reconheço
e me desejo perder.

Novamente,
no silêncio
- sem o teu sorriso -
sinto-me só
inanimada.

domingo, junho 13

segunda-feira, junho 7

Dissociation


Dissociação

Lirismo


Se eu puder, esta noite
vou enroscar-me nos teus sonhos
e pedir
que me abraces com ternura,
no movimento de um beijo
do tamanho do mundo
ou do que poderíamos ser
se estivéssemos perto.

Agora,
a noite pesa mais
porque te sei parte de mim
e agora
não contenho a tristeza,
perdoa-me dizê-lo
(pois se me fizeste feliz),
e choro todas as noites.

Depois vem o sol
e é como se sorrisses,
ou vens tu
e é como se fizesse sol.

Anda,
dá-me a tua mão
e vamos fazer de conta
que o mundo somos nós.

domingo, junho 6

Procura-se


A última vez que o senti contraía-se e relaxava num ritmo aproximado de 100 batidas por segundo, bombeando cerca de 5 litros de sangue por minuto.
Pesa cerca de 300 gramas, e deixei de o sentir ontem, pelas 19 horas, em Santa Apolónia - Lisboa, quando mais parecia pesar uma tonelada.

Oferecem-se alvíssaras a quem o encontrar.

quarta-feira, junho 2

Momento


Nesta oscilação que corre
entre o meu destino e o teu,
posso apenas sentir a força
das tuas incertezas,
e jurar perante o infortúnio
que tudo o que é certo
corre como o vento
pelas manhãs.

Ao menos se eu pudesse
cortar os cabos que ligam
as tuas promessas à terra,
quem sabe não sorririas,
quem sabe não descobrisses o teu corpo vivo,
o mundo,
qualquer coisa que, próxima da perfeição
nos oferecesse a felicidade.

Hoje,
sei que se ficares,
te parecerás com ela
e sorrirás como ela,
podes até mergulhar na certeza,
e levantar-te do fundo
ignorando o que o futuro traz,
morrer de novo – dizes,
acordar,
e mesmo assim não sentir
que podes ter tudo,
até
o que sempre sonhaste.

Sabes, é tão claro que,
tal como o dia nasce,
podemos expandir
num efémero eterno,
este brilho que decorre
entre os meus e os teus olhos.