domingo, abril 17

um ombro - duas faces


Só a memória de um fogo incapaz:
um corpo que pulsa rendido, a tua pele branca
– pálida de incertezas –
um corpo afogado na confusão das areias.
Só o tempo se repete.
.
.
Ficaste a saber que o mundo também dorme,
que o mundo também dorme
e só a tua pele apaga as luzes da cidade.
Quando a tua cabeça é sal colado ao meu ombro
– em carne viva –
quando todos os tendões prendem todos os poemas e palavras.
Até que a loucura de dois corpos em chama se apague.
E tudo é breve.
Tudo é breve e só a memória dos teus lábios sobrevive.

sexta-feira, abril 1

another picture of my own


(to those who live in my heart)

again
a tear drop is flying away;
when i move
my soul is the absence
and there is no reason for this
just a folded heart and an empty pocket
praying for refilling;
when i move
there's always a bird singing
the sounds of nothing;
i can say - my hands
will be always waiting for yours
and my eyes
can always reach yours;
and suddenly
i find love this strange thing between us
which will always keep us together.

quinta-feira, fevereiro 10

Parabéns, A.


Estás tão longe e tão perto, e tenho tanto para te dizer.
Mas todas as palavras são poucas para te escrever,
e todas as letras não chegam para contar tudo aquilo que és.
Tantas vezes quis dizer-te,
contar-te, e tantas vezes preferi o silêncio,
calando para mim as palavras,
fechando-as no mundo do medo e da distância.
Não sabia explicar.
Às vezes o destino leva-nos por caminhos que, quando contrariados,
baralham e entristecem vidas, e só não quis baralhar mais as nossas.
Hoje, só posso dizer
que és das pessoas mais bonitas que sei existirem,
que desde que te conheci que encheste os meus dias de sorrisos,
vida,
e de um alento que só os teus olhos me conseguem trazer.
Nunca disse, nunca disse. E todos os dias ainda foram poucos.
A., por tudo o que és,
se um dia alguém me disser que não sabe o que é o amor,
eu vou dizer que o amor é o teu nome.
O amor é o teu nome.

Segredo


Guardo um lugar entre os dois braços em elo
para impedir o estilhaçamento,
e sempre um bolso vazio
onde tento esconder a noite.
Agora,
o vento parou e as horas adormecem nos relógios,
e a serenidade do sono preenche a vulgaridade.
Queria que soubesses
que todo este tempo procurei a razão
para tudo aquilo que dizem estar escrito,
o tempo
as horas
os teus olhos
o beijo que me pediste
os beijos que me roubaste,
e tudo se perde em sentido
pois se tudo o que foi escrito foi isto
que quando a manhã caísse
só voltarias à minha memória
- só os teus olhos nos meus olhos fechados -
e um vazio no horizonte.

sexta-feira, janeiro 7

o tempo é um floco de gelo que nunca caía em celeridade


ontem,
as horas e os dias existiam soltos num lugar deserto
num imaginário de aspirações longínquas
- em curva, por um caminho estreito que me trouxe aqui,
e me mostrou a solidão que acelera os relógios
.
eu sei que desde que me afundei nos teus olhos,
o tempo parou para em seguida voar
para correr em flecha por um novo vácuo,
uma ferida aberta num lugar deserto,
onde as flores secam e as palavras morrem
.
agora,
tenho para mim que o tempo preenche um lugar escuro,
um lugar estranho pela exactidão
que encolhe os dias e as camisolas,
o lugar na cama e os teus lençois
.
o tempo já não navega
e rouba-me os dias sem o teu olhar
.
um mês, C.
um mês e este lugar vazio que o tempo não preenche

quarta-feira, janeiro 5

pensei que regressar era voltar a mim



...                        tal como se aguardam os barcos que dormem em alto mar

sábado, dezembro 25

I believe



...why don't you?                                                                   MERRY XMAS

terça-feira, dezembro 21

sau-da-de





Aprendi a dizer numa palavra
que tudo o que é teu tenho guardado
e cuidado a cada dia;
aprendi a dizer a palavra
que vou matar e deixar renascer
- quando te vir; abraçar -
numa só palavra tudo o que é teu:
saudade.

domingo, dezembro 19

w . . . o . . . r . . . d


what have I done to the words?
I have tried to find them inside my chest
tried the hidden place submersed by a shadow
and only emptiness I find,
and I remember - words –
they have always lived inside my hands
flowing from finger to finger
morning could rise, night could fall
words they lived deep inside my heart,
- and without a reason -
I offered you everything I had
imagining you would save it
and take care of it each day,
I offered you everything
the flowers
my hands
my words
and each petal had your name on it
each petal was a finger for words to flow
to jump from one to another in the darkness
and you were the only light which could make them bloom,
but suddenly
it took only a second for you to forget them
(I wonder if it was meant to be)
- everything -
the flowers
my hands
my words
and in a second everything was dry
everything was senseless,
and then
I looked at you and my eyes could’t shine
I looked at you and words didn’t come,
fists were thick
breath was deep
I gave you everything and everything I lost
- and without a reason –
you made me speechless

terça-feira, novembro 9

flowers bloom


Spread in disorder
I always fall in love with the beauty,
and little by little I start breathing one love,
spring - revives inside my chest
and flowers bloom obstinately
expelling thorns through all my flesh.
You said
love is immortal
but it will be in grave peril
as time goes by
,
and I closed my eyes in firmness when you asked
don’t fly away from me though
or at least not forever
,
just wondering about dreams
and why do I keep diving so deeply in them,
trying to force myself to sleep
just to escape from reality.
I think
love - it is not immortal,
some dreams can last forever
and others disappear with the winter,
when wounds waste away the thorns
and flowers wither with cold.
I guess
this might be the grave,
and this might be the peril,
but I can’t promise not to fly
if beauty reappears with wings
asking me for eternity.

domingo, outubro 31

durante a noite


Percorro a casa, morna e escura; encaminho os pés desnudos pela alcatifa mole; procuro a claridade. Na janela encontro luzes de uma qualquer cidade - não, o brilho das estrelas não é o mesmo, e o cheiro da madrugada afasta-se das minhas memórias.
Lisboa, penso, tem um brilho incomparável, e todas as cores contrastam com a minha alma. O cheiro, as gentes, as ruas apertadas, a confusão dos dias, o rio, o coração a viajar com as mãos no volante.
Lisboa - Lisboa - na minha cidade tudo brilha e tudo é sempre sol, e quando a noite cai mil sorrisos inundam as ruas onde sempre mergulho.
Aqui, quase sempre é noite e mal aprendi a nadar. Aqui, apetece-me riscar os tectos e escrever o teu nome em todos os cantos.
Lisboa - deixa chover - amo cada das pedras das tuas calçadas, e sonho os meus pés desnudos sobre elas. Lembro-me do Tejo, dos meus olhos soltos na água, das mãos dadas aos amigos, da casa, da família, do coração a brilhar contigo.
Lisboa, só Lisboa.

Lisboa e todas as palavras não chegam para dizer que só a ti pertenço.

sábado, outubro 23

um dia e tudo muda


os teus ombros o teu sorriso
o teu corpo abraçado aos meus ombros
o meu corpo enroscado no teu sorriso
pergunto estás aí e só um sopro vem da janela
manhã coberta nas minhas mãos
o teu corpo o teu sorriso
a oferecer-me a ferida que só o sono acalma
manhã coberta de memórias nos teus ombros
e um reflexo de tempestade

segunda-feira, outubro 18

I can't stop pretending




with tomorrow


It was more like a dream than reality
I must have thought it was a dream while you were here with me
When you were near I didn't think you would leave
When you were gone it was too much to believe

So with tomorrow I will borrow
Another moment of joy and sorrow
And another dream and another with tomorrow

So if there some day won't be time just to look behind
There won't be reasons, no descriptions for my place and mind
There was so much I was told that was not real
So many things that I could not taste but I could feel

So with tomorrow I will borrow
Another moment of joy and sorrow
And another dream and another with tomorrow


This Mortal Coil (Gene Clark)


sexta-feira, outubro 15

just vulnerable


encontro-me no desconforto
e subitamente desconheço-me;

a chuva
– outra vez a chuva no meu telhado –
outra vez a vontade de desvanecer
num estado amoral
solitário
(totalmente só)
ninguém;

outra vez a chuva no meu telhado
a escorrer pela garganta
a estalar as unhas
a bússula
e a cobrir a almofada de um desespero
de quem quer só saber de que é feito o medo
do que serão feitas as coisas que nos levam a um fim
quando nunca antes iniciadas;

depois

o orgulho a ranger nos ossos
a desilusão
por não saber calar a vulnerabilidade

terça-feira, outubro 5

lost beauty


don’t invent me
- she said -
I can hardly see the sky
like your eyes can;
you can draw my name in the sand
in the sand letter by letter
though the sea will hit the shore
though the sea will fade your dream
- and suddently she smiled while rain was catching her eyes -
life;
it’s crazy to be alive
and each night becomes more difficult
every night;
nobody;
no direction
-
and she turned her backs to me
rushing away in a kind of play
(that night)
rain was performing

domingo, outubro 3

one day i'll ask you for a dream


behind the obvious
such sensible reflection
of metaphors and fragments
- of music -
capable of
in any stave
build a symphony
exquisitely beautiful