quarta-feira, setembro 3

O teu rosto

Não sei como te dizer isto, mas o tempo tem esmorecido no teu rosto. Tenho a certeza que é passageiro, que cedo largarás o chão e o silêncio - o medo que vive na tua garrafa da razão. Agora não, agora ainda trazes vestido o azul da tristeza, e caem-te pelo ombro as ondas de um qualquer mar salgado. Olha: os dias fogem-te, devagar. Devagar o teu tecto fica mais baixo, e o teu canto cada vez mais se parece com uma alcofa.
Não sei como te dizer isto, mas os pássaros voam todos por baterem as asas, e não por saber voar, como os amantes que se rendem aos lábios que nunca puderam beijar. E nunca, nunca ninguém os ensinou a fazê-lo.

Porque o dia nasce quando o sol brilha nos teus cabelos, e a noite são os teus olhos quando fecho os meus.