terça-feira, abril 15

Nada

Às vezes acordo cravejada pelo sono, com as mãos presas numa linguagem que nem eu entendo.
Prendo a respiração.
Olho, e através do vidro alcanço o que não via.
Toco - senão toco.
O prazer das mãos rendidas ao tacto.
O sangue a correr às golfadas.

Aprisionaste-me a alma - não te devia ter olhado nos olhos.

Sonho.
Sonho que não é sonho, senão o orvalho não existiria, e no seu lugar jazeriam raízes.
A eterna estabilidade temporal.
Nada existe - nada pode - nada prende.
Nada aperta o coração.
Esta folha bebe em tinta o que já tu bebeste de mim.
Nada fere.
A ilusão das garrafas manchadas pela respiração.
A asfixia do sono, o mergulhar dos olhos na escuridão.

A vida não é mais vida: nada mais do que se apresenta aos olhos.
Nada mais que as noites que me cravejam o sono.

Tu não és nada - és apenas esta cicatriz no meu peito.