segunda-feira, maio 19

Mata-me


Quatro Olhos


Com toda a força que tenho entre mãos: Sufoco.
Triste. Beleza de morte.
A noite cai-me nos braços, ainda não acordei.
O espectáculo que é assistir ao vôo dos pássaros: lâminas que cortam a paisagem.
E apareces tu, como se nada fosse, interrompendo-me o sonho.
Inabalável.
Agitas-me as mãos para eu acordar, o corpo. Lanças no escuro gritos de desespero, e abanas-me novamente.
A paz.
Agitas-me. Apertas-me.
Estou drogada demais e não te oiço.
Sufocas-me.
Morro. Abro os olhos e morro: acordei da escuridão.

Estrábico - quatro olhos, monstro.
Sai daqui, desaparece... quero voltar a sonhar.
O tecto desce, as paredes movem-se. Os quadros tomam o meu lugar. A luz prende-me os olhos e gira em torno de mim.
Desfiguração.
Gritas.
Sai daqui...
Gritas.
Desaparece!
Não páras de gritar.
Sufocas-me!
Desistes.
A arma fatal que tinha entre mãos. A palavra que fere, rói, e te arranca o coração.
Sufocas-me! Desaparece, sufocas-me!
Lanças a porta, protesto, tentativa de evasão. Estrondo.
Caem-me quadros da escuridão.
Fecho os olhos. Desapareço. Diluo-me na solidão.
Esta forma de estar que é dormir por cansaço de estar.
Fecho os olhos e durmo.

Não tarda apareces e volto a morrer.
Então mata-me, mata-me de uma vez só!