segunda-feira, maio 12

Saudade

Às vezes parece que nasce um peso cá dentro e não conseguimos explicar, não conseguimos dizer porque não soltamos sequer um ai.
E suspiramos.
Vemos o mundo lá fora e parece que não nos é nada, que não foi aqui que nascemos, ou que nos perdemos no caminho para casa. E lembramo-nos dos outros, de nós, de como os outros eram, de como nós éramos...
Às vezes temos saudades dos outros, dos que deixamos para trás e dos que nos deixaram. Dos que fizeram questão de nos provar que nada é eterno e que mesmo os mais próximos mais cedo ou mais tarde se afastam. Às vezes até temos saudades de nós. Paramos em frente ao espelho e bloqueamos o tempo, corremos memórias de nós próprios, e queremos por vezes, mesmo que por escassos momentos, regressar atrás. Fugir para o passado. Só para ter o prazer de também dele fugir.
E suspiramos.
Às vezes nem damos conta do tempo a passar, e quando percebemos já é tarde demais para regressar. E o que foi que fizemos, porque é que mudou, mas porque é que o tempo não pára quando nós queremos que assim seja?
Sentimos saudade do sol, da chuva, da lua que está há muito escondida, do amigo que nunca mais disse nada, do café que aquela pastelaria servia, e guardamos memórias, bilhetes de cinema, de museus, e fotografias, montes e montes de fotografias porque sabemos que cedo ou tarde o tempo apagará a memória e já nem a saudade nos deixará sentir.
E suspiramos.
Sentimos saudade da paixão e de tudo que nos já fez vibrar, viver e explodir em emoção. Às vezes sentimos saudade do amor e mais parece que é o amor que sente saudade de nós.
Às vezes sentimos saudade de sentir saudade. E vezes há, em que parece que sentimos saudade do que nunca vivemos. Até a sentimos pelo que nos fez sofrer, mas só porque em tempos também nos fez sorrir.
E suspiramos, mas só não o fazemos pelo que já nos fez triste.


(este fui buscá-lo ao baú... já tinha saudades...)