quarta-feira, julho 30

O cadáver esquisito


Era uma vez um castelo, onde os meus erros estavam catalogados numa exposição sobre a estupidez humana. Mediam-se os sentimentos, como quem pesa a virtude, palmo a palmo, pegada atrás de pegada, a nudez de um crânio.
Às vezes os quadros caíam e eu, imóvel, assistia à devastação do engano.
Normalmente as noites eram assim: Eu snifava uma linha de coca e perguntava: "És socialista?". Não - sou tudo menos isso, sou a espera enquanto adormeces, sou o devaneio enquanto enlouqueces - respondia eu a mim próprio.
Estou demasiado embriegado para racionalizar sobre para que lado me inclino, o teor alcoólico do absinto não está escrito nas garrafas mas sim no meu sangue, e sinto as palpitações a perderem-se nos veios da carne.
Outra vez tu. Outra vez. Outra vez. Outra vez. Pensei que não íamos dar mais voltas nesta montanha russa.
O meu cérebro dilatava de raiva. Estavas tão entupida de pensamentos fúteis... Porque é que és a embalagem do meu conteúdo? Farto e enojado, caminhava até à praia e banhava-me nas águas geladas. Vem - Deus das tormentas - e leva o que me resta da memória.
Assim calava as exposições, brindava à ignorância que paira nas luzes, à lucidez da merda das almas, e adormecia junto à perdição.


Joana, João, Susana, Tânia